segunda-feira, agosto 28, 2017

Estudo Minucioso do Evangelho - O Endemoninhado Gadareno


E navegaram para a terra dos gadarenos, que está defronte da Galiléia.
E, quando desceu para terra, saiu-lhe ao encontro, vindo da cidade, um homem que, desde muito tempo, estava possesso de demônios e não andava vestido nem habitava em qualquer casa, mas nos sepulcros.
E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando e dizendo com alta voz: Que tenho eu contigo Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Peço-te que não me atormentes.
Porque tinha ordenado ao espírito imundo que saísse daquele homem; pois já havia muito tempo que o arrebatava. E guardavam-no preso com grilhões e cadeias; mas, quebrando as prisões, era impelido pelo demônio para os desertos.
E perguntou-lhe Jesus, dizendo: Qual é o teu nome? E ele disse: Legião; porque tinham entrado nele muitos demônios.
E rogavam-lhe que os não mandasse para o abismo.
E andava pastando ali no monte uma manada de muitos porcos; e rogaram-lhe que lhes concedesse entrar neles; e concedeu-lho.
E, tendo saído os demônios do homem, entraram nos porcos, e a manada precipitou-se de um despenhadeiro no lago e afogou-se.
E aqueles que os guardavam, vendo o que acontecera, fugiram e foram anunciá-lo na cidade e nos campos.
E saíram a ver o que tinha acontecido e vieram ter com Jesus. Acharam, então, o homem de quem haviam saído os demônios, vestido e em seu juízo, assentado aos pés de Jesus; e temeram.
E os que tinham visto contaram-lhes também como fora salvo aquele endemoninhado.
E toda a multidão da terra dos gadarenos ao redor lhe rogou que se retirasse deles, porque estavam possuídos de grande temor. E, entrando ele no barco, voltou.
E aquele homem de quem haviam saído os demônios rogou-lhe que o deixasse estar com ele; mas Jesus o despediu, dizendo:
Torna para tua casa e conta quão grandes coisas te fez Deus. E ele foi apregoando por toda a cidade quão grandes coisas Jesus lhe tinha feito.1


E navegaram para a terra dos gadarenos, que está defronte da Galiléia.
E navegaram para a terra dos gadarenos que está defronte da Galiléia - Gadarenos ou gerasenos, era o nome dado aos naturais, ou habitantes da Gadara, que o historiador Josefo diz ser a metrópole da Peréia, cidade grega, opulenta e rica.1
Há muita polêmica sobre onde se deu realmente este acontecimento, alguns comentaristas preferem o termo geraseno referindo-se aos habitantes de Gerasa situada na Decápolis
O termo gergesenos, constante do evangelho de Mateus, segundo algumas versões, foi introduzido por Orígenes, porque acreditava este, que a cidade em que se deu tal passagem seria outra, cujo o nome era Gergesa.
O Espírito Amélia Rodrigues, conforme a psicografia de Divaldo Pereira Franco, nos fala em Gerasa, nos dando importantes características desta região. Segundo sua informação, o solo desta província era ingrato onde nada medra, à exceção de espinheiros e cardos silvestres2; sua economia se destacava pelo comércio de porcos.
Decápolis era um distrito que continha dez cidades, entre elas Gadara e Gerasa. Era povoada por gregos após a conquista de Alexandre.
Jesus e os discípulos se dirigiram a esta região, nos ensinando que o “mar da vida”, muitas vezes nos leva a navegar por terras áridas, onde corações endurecidos não entendem a noção de espiritualidade que trazemos.
Ele, o Mestre dos mestres, tinha por missão divulgar a verdade do Reino a todas as criaturas; portanto, não perdia a oportunidade de estar sempre semeando, mesmo sabendo que muitas sementes caindo nos pedregais, o Sol iria queimá-las. Tempo viria em que as terras improdutivas seriam fertilizadas pela dor, e aí então, aquelas sementes, que são imortais, produziriam frutos dignos de servirem de alimento a todos.
Assim, devemos nós também fazer, afinal foi Ele quem disse:
Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura.3 …Ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado…4
E, quando desceu para terra, saiu-lhe ao encontro, vindo da cidade, um homem que, desde muito tempo, estava possesso de demônios e não andava vestido nem habitava em qualquer casa, mas nos sepulcros.
E, quando desceu para terra… - A divulgação doutrinária tem sido a nossa preocupação a todo instante. Para que tal objetivo se dê, reuniões e estudos visando o melhor entendimento do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo têm sido incentivados em todo o movimento Espírita; desta forma, temos não só compreendido melhor as Leis Morais que regem o Universo, como também, aumentado a nossa capacidade de vibrar em sintonia com as Forças Criativas da Espiritualidade. As questões da Imortalidade da Alma, da Reencarnação, da Mediunidade, da Lei de Evolução têm sido bastante discutidas entre todos, e isto é muito bom, pois abre perspectivas de caminhada mais segura.
Se estar entre os afins é algo gratificante; se elevar-nos através da discussão de filosofia sadia é sempre proveitoso; não podemos deixar de seguir o exemplo do Mestre, que desceu para a terra… mostrando-nos a necessidade de atuarmos em favor do próximo, junto dele; estarmos entre os desafetos aumentando a nossa capacidade de compreensão; auxiliar não só os que nos alegram com as respostas positivas, mas principalmente os que têm dificuldades a serem superadas. Afinal, foi Ele mesmo quem disse:
Os sãos não necessitam de médico, mas sim os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores.5
saiu-lhe ao encontro, vindo da cidade… - Sair ao encontro de Jesus é a atitude necessária; afinal, são os Espíritos Superiores quem afirmam ser Ele, o Guia e Modelo da Humanidade6. Entretanto, como tudo na vida, é imperioso avaliar a maneira em que este ir-Lhe ao encontro se dá. Pois podemos buscá-Lo com o coração aberto a fim de segui-lo, ou para rechaçá-lo através de nossas posturas anticristãs.
A cidade é onde moramos. Se nela encontramos os recursos necessários ao nosso bem viver, é também onde nos defrontamos com os desafetos, com situações não resolvidas, com sentimentos que despertam em nós tendências e imperfeições a serem superadas. Portanto, ao entrarmos na cidade, ao tomarmos contato com o centro dos interesses que salteiam o nosso íntimo, tomemos cuidado com o que pode vir de lá; não esqueçamos a lição anotada pelo evangelista que diz:
Olhai, vigiai e orai, porque não sabeis quando chegará o tempo.7
um homem que, desde muito tempo, estava possesso de demônios… - Entre os enormes bens feitos à Humanidade pela Doutrina Espírita, está o melhor entendimento do vocábulo demônio. Antes do aparecimento desta, o termo demônio era entendido como seres vinculados eternamente ao mal. Por terem se revoltado contra o Criador, tornaram-se rivais Deste, e o que é pior, para todo sempre. Assim, aqueles que eram apanhados por estes diabólicos seres, perdiam a condição de filhos de Deus, e passavam também a fazer parte da sociedade eterna do mal.
Com o esclarecimento trazido pelos Espíritos Codificadores, passamos a ver nestes infelizes seres, apenas Espíritos que, afastados provisoriamente do Bem, tentam perverter a Ordem do Universo; mas que na medida em que forem crescendo em sabedoria e verdade, vão se desvinculando do mal e se libertando no Bem, que por excelência, é o fim de todos.
Há homens que estão vinculados a ideias enganosas, devemos nos acautelar destes; mas há outros que estão muito mais comprometidos com a desordem – desde muito tempo -, estes são mais perigosos ainda. É sobre um destes que a narrativa evangélica nos fala: um homem que, desde muito tempo, estava possesso de demônios.
A expressão desde muito tempo, nos fala do comprometimento daquele homem com seus obsessores; pois este processo que muitas vezes se inicia simples, agrava-se com o decorrer do tempo.
Hoje é um pingo de sombra, amanhã linha firme, para, depois, fazer-se um painel vigoroso…8
É importante notar ainda, que aquele homem estava, segundo os registros do evangelista, possesso de demônios, ou seja, de muitos.
O termo possesso, do latim possessu, quer dizer possuído. Este tipo de obsessão é qualificada como uma das mais graves que podem acontecer a qualquer um de nós; ela é estudada por Kardec no Livro dos Médiuns sob o nome de subjugação. O iluminado Codificador do Espiritismo prefere esta palavra para definir tal anomalia, por achar que ela explica melhor o acontecimento, mas no fundo querem dizer a mesma coisa, conforme demonstra André Luiz no capítulo 9 do livro Nos Domínios da Mediunidade.
Segundo o Dr. Osvaldo Hely Moreira, a subjugação é um quadro mais grave, pois o obsessor tem um conhecimento técnico mais avançado, dominando assim o cérebro do encarnado.9
e não andava vestido. – Uma das características deste grave processo obsessivo é a perda por parte do encarnado do controle de suas ações. Este enfermo, que ora estudamos, já tinha perdido a noção do real, pois não andava vestido.
O vestido ou veste, é a nossa proteção exterior; define a nossa aparência. Com o agravamento da influenciação espiritual, ficamos desprotegidos, porque já não é a nossa vontade que comanda e sim a do desencarnado; nossa aparência muda pois reflete nossa desorganização mental. Não andar vestido da vigilância que se faz necessária, nos leva a situações que podem inclusive nos desarmonizar fisicamente, pois a atuação do Espírito pode enfraquecer-nos fisicamente atrapalhando o nosso sistema imunológico, sendo assim caminho para enfermidades piores.
nem habitava em qualquer casa… - Tal situação é ainda mais grave; não habitar qualquer casa, é perder por completo a referência, é estar totalmente sem identidade.
Jesus ao nos ensinar a orar, recomendou que entrássemos em nosso aposento íntimo e em silêncio nos dirigíssemos ao Pai; não habitar em qualquer casa, é perder esta sintonia com o eu profundo, com o Deus em nós.
mas nos sepulcros. – Há Espíritos que, em desencarnando ficam ainda presos ao mundo físico ignorando o que lhes está acontecendo; há outros, ainda piores, que necessitando de fluidos mais materializados, vampirizam elementos recém desencarnados em busca da vitalidade destes.
André Luiz relata um caso destes no livro Obreiros da Vida Eterna, nos fazendo a seguinte observação:
não pude sofrear o espanto que me tomou o coração. As grades da necrópole estavam cheias de gente da esfera invisível, em gritaria ensurdecedora. Verdadeira concentração de vagabundos sem corpo físico apinhava-se à porta. Endereçavam ditérios e piadas à longa fila de amigos do morto…
ante a minha estranheza, Hipólito considerou:
- Não é para admirar. O Evangelho, descrevendo o encontro de Jesus com endemoninhados, refere-se a Espíritos perturbados que habitam entre os sepulcros.
Nos cemitérios costuma congregar-se compacta fileira de malfeitores, atacando vísceras cadavéricas, para subtrair-lhes resíduos vitais.10
Desta forma, notamos a realidade da existência destes Espíritos, e que mais uma vez a Doutrina Espírita nos auxilia na compreensão do Evangelho; este enfermo atendido por Jesus, não era mais do que um obsidiado, segundo a linguagem Espírita; o os obsessores, ao invés de serem almas eternamente perdidas, eram espíritos desencarnados que ainda não teriam encontrado o caminho do Bem.
Não podemos deixar de citar ainda, os “mortos espirituais”. Sendo vida, o dom dado por Deus à criatura, morte é tudo o que contraria a Vontade do Todo Sábio. Assim, toda vez que alguém contraria a vontade Deus por causa do “pecado”, acha-se morto espiritualmente falando. São estes, verdadeiros sepulcros ambulantes, os que mais devem ter cuidado, pois o Evangelho é claro:
e não andava vestido nem habitava em qualquer casa, mas nos sepulcros.
(Leia o texto completo no Site Espiritismo e Evangelho
1 Dicionário da Bíblia pág. 247
2 Primícias do Reino pág. 122
3 Marcos, 16: 15
4 Mateus, 28: 20
5 Marcos, 2: 17
6 Ver O Livro dos Espíritos questão 625
7 Marcos, 13: 33
8 Pensamento e Vida, pág. 126
9 Porque Adoecemos, pág. 127
10 Obreiros da Vida Eterna, pág. 231


1 Lucas, 8: 26 a 39

O Inferno Não é Eterno



A ideia de um inferno eterno e da eternidade dos sofrimentos como pena futura é o maior engano que o demônio, isto é, as entidades das trevas, semeou no coração dos religiosos de um modo geral.
Esta ideia é inconcebível naquele que tem Deus como Criador de todas as coisas, pois ela limita a Misericórdia Divina e exclui o Amor Absoluto como atributo de Deus.
Acreditar num inferno eterno é acreditar na eternidade do mal, pois se o primeiro for eterno , o segundo será do mesmo modo, e isto sim é que é contradizer a Bíblia, pois nela Jesus afirma:

“Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada.” (Mt, 15: 13)

O mal não é de origem divina, portanto, é planta que será arrancada. Não sendo criação de Deus não existirá eternamente.
Deste modo, como que o inferno será eterno se o mal não for também eterno?

De outro modo podemos ainda comprovar a mesma ideia.
Como dissemos o mal não é criação de Deus, penso que não há dúvida quanto a isto. O homem é o autor do mal. Se ele, o mal, for eterno, podemos dizer que o homem tem o mesmo poder de Deus, ou seja o de criar algo eterno. Pois se o Bem, criação Divina é eterno e o mal criação humana também é podemos dizer que os dois tem o mesmo poder, mesmo que em direção contrária, isto é um absurdo e totalmente fora de propósito.
Penso não caber mais discussão sobre o tema.

Ainda bem que a misericórdia de Deus é infinita, ou melhor, maior do que o infinito. Pois, se não, o mal eterno seria a pena para aquele que ensinar esta teoria aos pequeninos desviando-os do verdadeiro entendimento dos Atributos de Deus.

Mas qualquer que fizer tropeçar um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e que fosse lançado no mar.  (Mc. 9: 42)

sábado, agosto 26, 2017

Evolução

Evolução do Princípio Inteligente

A existência do princípio espiritual é uma realidade; do mesmo modo que podemos demonstrar a realidade da matéria, pelos efeitos demonstramos a existência do princípio espiritual, pois sem ele, o próprio Criador não teria razão de ser. Como entender um ser superior, com atributos superiores, a governar somente sobre a matéria? Como compreender que a Inteligência Suprema, que é a própria Sabedoria, iria criar seres inteligentes, sensíveis, e depois lançá-los ao nada, após alguns anos de sofrimento sem compensações, e deleitar-se com a sua criação como faz um artista menor.

Sem a sobrevivência do ser pensante, os sofrimentos da vida seriam, da parte de Deus, uma crueldade sem objetivo.

Por ser uma centelha divina, e possuir a imortalidade em sua intimidade, é inata no homem a idéia da perpetuidade do ser pensante, e essa perpetuidade seria inútil, não fosse a evolução. Evolução essa que fica clara na resposta dada pelos espíritos a Kardec na questão 607 de “O Livro dos Espíritos”. Quando questionados sobre a origem dos Espíritos, nos afirmam que antes de conquistar as faculdades inerentes ao homem atual, o Espírito estagia “numa série de existências que precedem o período a que chamamos humanidade”, e continuam:

“Já não dissemos que tudo em a natureza se encadeia e tende para a unidade? Nesses seres, cuja totalidade estais longe de conhecer, é que o princípio inteligente se elabora, e individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida, conforme acabamos de dizer. É de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito.”

Martins Peralva, no livro “O Pensamento de Emmanuel”, narra, desta forma, a longa viagem feita pela mônada divina, ou princípio espiritual:


“Na fase preambular, a mônada luminosa, que mais tarde será Espírito, ser inteligente, vai sendo envolvida, como energia divina, em fluidos pesados. Perde sua luminosidade, condensa-se no reino mineral.

Energia - Suas transformações

a) Condensada, na pedra;
b) Incipiente, na planta;
c) Primária nos irracionais
d) Contraditória, nos homens de mediana evolução
e) Excelsa, nas almas sublimadas”



Honório Abreu assim se manifesta em um artigo de sua autoria:

“Assim ajustando-se às vibrações dos minerais, em cujo berço hibernam por milhões e milhões de anos, as “mônadas luminosas” são trabalhadas nos padrões da atração, preparando-se para novas conquistas, em termos de “sensação” no campo dos vegetais.
Os reinos mineral e vegetal, como institutos de recepção da onda criadora da vida, preparam as bases de onde os elementos espirituais partem para as faixas animais em que o instinto, trabalhando o seu psiquismo, os habilitam, lenta e gradativamente, para o ingresso nas trilhas da humanidade, onde, já usufruindo de “pensamento contínuo” elaboram em processo crescente, os valores da razão e da inteligência.”[1]
Concluindo, deixamos a palavra com o nosso mentor André Luiz, segundo psicografia de Waldo Vieira, no livro “Evolução em Dois Mundos”:

“É assim que dos organismos monocelulares aos organismos complexos, em que a inteligência disciplina as células, colocando-as a seu serviço, o ser viaja no rumo da elevada destinação que lhe foi traçada do Plano Superior, tecendo com os fios da experiência a túnica da exteriorização, segundo o molde mental que traz consigo, dentro das leis de ação, reação e renovação em que mecaniza as próprias aquisições, desde o estímulo nervoso à defensiva imunológica, construindo o centro coronário, no próprio cérebro, através da reflexão automática de sensações e impressões, em milhões e milhões de anos, pelo qual, com o Auxílio das Potências Sublimes que lhe orientam a marcha, configura os demais centros energéticos do mundo íntimo, fixando-os na tessitura da própria alma.

Contudo, para alcançar a idade da razão, com o título de homem, dotado de raciocínio e discernimento, o ser, automatizado em seus impulsos, na romagem para o reino angélico, despendeu para chegar aos primórdios da época quaternária, em que a civilização elementar do sílex denuncia algum primor de técnica, nada menos de um bilhão e meio de anos. Isso é perfeitamente verificável na desintegração natural de certos elementos radioativos na massa geológica do globo. E entendendo-se que a Civilização aludida floresceu há mais ou menos duzentos mil anos, preparando o homem, com a benção do Cristo, para a responsabilidade, somos induzidos a reconhecer o caráter recente dos conhecimentos psicológicos, destinados a automatizar na constituição fisiopsicossomática do espírito humano as aquisições morais que lhe habilitarão a consciência terrestre a mais amplo degrau de ascensão à Consciência Cósmica.”[2]

Evolução do Espírito

Segundo Pitágoras, “(...) a evolução material dos mundos e a evolução espiritual das almas são paralelas, concordantes, explicam-se uma pela outra. A grande alma, espalhada na Natureza, anima a substância que vibra sob seu impulso, e produz todas as formas e todos os seres. Os seres conscientes, por seus longos esforços, desprendem-se da matéria, que dominam e governam a seu turno, libertam-se e aperfeiçoam-se através das existências inumeráveis. Assim o invisível explica o visível, e o desenvolvimento das criações é a manifestação do Espírito Divino.” (extraído do Livro Depois da Morte de Léon Denis, cap. 4)

Edgar Armond, em seu livro “Os Exilados da Capela” faz o seguinte comentário:

“Conforme a ciência oficial, quando o clima da terra se amenizou, em princípios do ioceno (uma das quatro grandes divisões da Era Terciária, isto é, o período geológico que antecedeu o atual), surgiram os primeiros seres do qual descende o homem atual. Entre estes últimos, (que conseguiram se erguer), prevaleceu um tipo, mais ou menos a 25 milhões de anos, e que era positivamente um símio.
E os tipos foram evoluindo até que, mais ou menos há um milhão e meio de anos, surgiram as espécies mais aproximadas do tipo humano.

Na Ásia, na África e na Europa foram descobertos esqueletos de antropóides (macacos semelhantes ao homem) não identificados.
Nas camadas do Pleistoceno inferior, também chamado paleolítico (período antigo da pedra lascada), e no Neolítico (era da pedra polida) vieram à luz instrumentos, objetos e restos de dentes, ossos e chifres, cada vez melhor trabalhados.
Em 1807 surgiu em Heidelberg um maxilar inferior e em Piltdow (Inglaterra) um crânio e uma mandíbula um tanto diferentes dos tipos antropóides; até que finalmente surgiram esqueletos inteiros desses seres, permitindo melhores exames e conclusões.
Primeiramente, surgiram criaturas do tamanho de um homem, que andavam de pé, tinham cérebro pouco desenvolvidos e que foram chamadas Pitecantropos e que viveram entre 550 e 200 mil anos atrás. Em seguida surgiu o Sinantropos, ou Homem de Pekin, de cérebro também muito precário. Mais tarde surgiram tipos, de cérebro mais evoluído que viveram de 150 a 35.000 anos atrás e que foram chamados de Homens de Solo (na Polinésia); de Florisbad (na África); da Rodésia (na África) e o mais generalizado de todos, chamado de Homem de Neandertal (no centro da Europa) e cujos restos em seguida foram também encontrados nos outros continentes.
Como possuíam cérebro bem maior, foram chamados ‘Homos Sapiens’, conquanto tivessem ainda muitos sinais de deficiências em relação à fala, à associação de idéias e à memória.
E por fim, foram descobertos os tipos já bem desenvolvidos chamados de ‘Homus Sapiens sapiens’, isto é, ‘homens verdadeiros’.”[3]

Emmanuel, em comunicação dada em 1937, pelo médium Chico Xavier, diz que:

“O processo, portanto, da evolução anímica se verifica através de vidas cuja multiplicidade não se pode imaginar, nas nossas condições de personalidades relativas, vidas essas que não se circunscrevem ao reino hominal, mas que representam o transunto das várias atividades em todos os reinos da natureza.
Todos aqueles que estudaram os princípios de inteligência dos considerados absolutamente irracionais, grandes benefícios produziram, no objetivo de esclarecer esses sublimados problemas, do drama infinito do nosso progresso pessoal.
O princípio inteligente, para alcançar as cumiadas da racionalidade, teve de experimentar estágios outros de existências nos planos da vida. E os protozoários são embriões de homens, como o selvagem das regiões ainda incultas são o embrião dos seres angélicos (...)
O macaco, tão carinhosamente estudado por Darwin nas suas cogitações filosóficas e científicas, é um parente próximo das criaturas humanas, falando-se fisicamente, com seus pronunciados laivos de inteligência; mas a promoção do princípio espiritual do animal à racionalidade humana se processa fora da terra, dentro de condições e aspectos que não posso vos descrever, dada a ausência de elementos analógicos para as minhas comparações.”[4]

Como vimos anteriormente, este processo de estágio do princípio inteligente nos reinos inferiores é demorado, chegando a levar séculos e milênios para passar de uma fase a outra; sendo ainda necessário que esta “promoção” seja processada em vários planetas, que, como nos afirma Emmanuel, não podemos ainda entender, devido ao primarismo de nossa evolução espiritual.

“Quando cessou o trabalho de integração de espíritos animalizados nesses corpos fluídicos e terminaram sua evolução, o planeta se encontrava nos fins de seu terceiro período geológico e já oferecia condições de vida favoráveis para seres humanos encarnados.
Iniciou-se, então, essa encarnação nos homens primitivos, que a tradição esotérica também registrou da seguinte maneira: espíritos habitando formas mais consistentes, já possuidores de mais lucidez e personalidade, porém fisicamente ainda fora dos padrões da humanidade atual.[5]

Mas o tempo transcorreu em sua inexorável marcha e o homem, a poder de sofrimentos indizíveis e penosíssimas experiências de toda sorte, conseguiu superar as dificuldades dessa época tormentosa.
Acentuou-se em conseqüência, o progresso da vida humana no orbe, surgindo as primeiras tribos de gerações mais aperfeiçoadas, compostas de homens de porte agigantado, cabeça melhor conformada e mais ereta, braços mais curtos e pernas mais longas, que caminhavam com mais aprumo e segurança e em cujos olhos se vislumbravam mais acentuados lampejos de entendimento(…)
(…) Eram nômades; mantinham-se em lutas constantes entre si e mais que nunca predominava entre eles a força e a violência, sendo que a lei do mais forte era o que prevalecia.
Todavia formavam sociedades mais estáveis e numerosas, do ponto de vista tribal, sobre as quais denominavam sob o caráter de chefes ou patriarcas, aqueles que fisicamente houvessem conseguido vencer todas as resistências, e afastar toda a concorrência.
Do ponto de vista espiritual ou religioso essas tribos eram absolutamente ignorantes e já de alguma forma fetichistas pois adoravam, por temor ou superstição instintiva, fenômenos que não compreendiam e imagens grotescas representativas tanto de suas próprias paixões e impulsos nativos, como de forças maléficas ou benéficas que ao seu redor se manifestavam perturbadoramente (…)
(…) A humanidade, nessa ocasião, estava num ponto em que uma ajuda exterior era necessária e urgente, não só para consolidar os poucos e laboriosos passos já palmilhados como, principalmente, para dar-lhe diretrizes mais seguras e mais amplas no sentido evolutivo (…)”[6]

Nunca em época alguma falta o auxílio do alto. A descida de Emissários divinos se fazia necessária para a evolução do homem autóctone.
Veja como Emmanuel, Espírito guia de nosso querido Chico Xavier, narra este momento evolutivo:

“Há muitos milênios, um dos orbes do Cocheiro, que guarda muitas afinidades com o globo terrestre, atingira a culminância de um dos seus extraordinários ciclos evolutivos(…)
Alguns milhões de Espíritos rebeldes lá existiam, no caminho da evolução geral, dificultando a consolidação das penosas conquistas daqueles povos cheios de piedade e de virtudes(…)”[7]

E após outras considerações, acrescenta:

“As Grandes Comunidades Espirituais, diretoras do Cosmo deliberaram então, localizar aquelas entidades pertinazes no crime, aqui na Terra longínqua(…)
Foi assim que Jesus recebeu, à luz do seu reino de amor e de justiça, aquela turba de seres sofredores e infelizes (…)
Aqueles seres angustiados e aflitos, que deixavam atrás de si todo um mundo de afetos, não obstante os seus corações empedernidos na prática do mal, seriam degredados na face obscura do planeta terrestre; andariam desprezados na noite dos milênios da saudade e da amargura; reencarnariam no seio das raças ignorantes e primitivas, a lembrarem o paraíso perdido nos firmamentos distantes. ( Cf. Gênesis, 3: 23[8])

Por muitos séculos não veriam a suave luz da Capela, mas trabalhariam na Terra acariciados por Jesus e confortados na sua imensa misericórdia.
Com o auxílio desses Espíritos degredados, naquelas eras remotíssimas, as falanges do Cristo operavam ainda as últimas experiências sobre os fluidos renovadores da vida, aperfeiçoando os caracteres biológicos das raças humanas(…)”[9]

Não é à-toa que alguns milênios depois, o próprio Mestre nos afirmava, “eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”[10]; como a definir sua antiga ligação com esta raça, e nos mostrar que só através da vivência plena do seu Evangelho, podemos quebrar as algemas que nos conduz a um círculo vicioso na nossa história evolutiva.

Conclusão

“Estagiando em tipos variados na escala ascensional, o ser ingressa nos quadros hominídeos, onde alicerça, em bases de consciência desperta, os padrões intelectivos e morais que lhe assegurem empreender novas escaladas no rumo da angelitude.
Para toda essa caminhada o ser recebe recursos pela ação benfeitora do Plano Maior. Encontra terrenos preparados para o seu aprendizado a caracterizarem-se por mundos constituídos, tal qual ocorre com o reencarnante que é acolhido no lar, só dando valores aos bens que lhe forem proporcionados na infância mais à frente, quando já se capacita a raciocinar e ponderar mais claramente.
A posse da razão acarreta novas providências no processo de orientação dos seres em evolução. Aos embates e obstáculos das reencarnações, agindo de fora para dentro no esforço de despertamento inicial, somam-se providências espirituais agora nas áreas da educação.
Atividades artesanais se instauram sob a assistência dos benfeitores espirituais. Durante o sono físico as primeiras lições são levadas a efeito quando a entidade encarnada, desdobrando-se com o seu perispírito, entra em relação com companheiros “instrutores” desencarnados, junto às frentes de trabalho que constituem objeto de suas preocupações durante a faina diária (…).
Das instruções puramente manuais partem os orientadores da humanidade nascente para os indicativos morais, trabalhando os seres primitivos no cultivo das noções de direito, de proteção, de respeito, abrindo leira para o advento, a seu tempo das grandes revelações das leis vigentes no Universo.”[11]

Desta forma, temos como síntese dos pontos fundamentais do processo evolutivo, a seguinte informação:

“O ser eterno, emanação divina, transforma-se em “alma vivente”, organizada para executar as obras da própria edificação (…).
No reino mineral, as leis de afinidade são manifestações primaciais do Amor-atração.
No reino vegetal, as árvores oferecem maior coeficiente de produção se colocadas entre companheiras da mesma espécie, porque o Amor-cooperação ajuda-as a produzirem mais e melhor.
Entre os seres irracionais, a ternura, as providências de alimentação e defesa e a própria formação em grupos falam-nos do Amor-solidariedade.
Entre os seres racionais, é o Amor o mais perfeito construtor da felicidade interna, na paz da consciência que se afeiçoa ao Bem.
Nas relações humanas, é o Amor o mais eficaz dissolvente da incompreensão e do ódio.
Entre os astros, famílias de mundos viajando na amplidão cósmica, em obediência às leis da mecânica celeste, indicam-nos outra singular expressão do Amor; o Amor-equilíbrio, que mantém unidos astros e planetas no fabuloso espetáculo das constelações que cintilam, ofuscantes, na abóbada infinita.”[12]

Temos então o Amor como base da evolução em todos os aspectos. Desde o “Fiat lux” até o grande momento do retorno do ser ao Criador, momento em que deixamos de ser filhos de Deus, para sermos “Filhos de Deus”.

Lei do Progresso

Segundo a teologia, o homem foi criado justo, feliz, e assim poderia ter-se mantido por toda a eternidade. Tentado, porém, por satanás, desobedeceu ao Criador, vindo a sofrer, em conseqüência desse grave pecado, a privação da graça, a perda do paraíso, a ignorância, a inclinação para o mal, a morte e toda sorte de misérias do corpo e da alma.
Em outras palavras, isso quer dizer que o gênero humano teria surgido na Terra perfeito, ou quase, mas depois se degradou.
A Doutrina Espírita afirma que o progresso é lei natural, cuja ação se faz sentir em tudo no Universo.
Grifamos a expressão “tudo no Universo”, para fixarmos em nosso entendimento que a lei do progresso, sendo uma lei divina, atua em toda a criação, desde o átomo até o anjo.
No capítulo VIII da 3a parte de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec estuda esta lei. Faremos a seguir um resumo deste importante capítulo:

A infância da Humanidade é o ponto de partida do desenvolvimento humano. Sendo perfectível, o homem traz em si o gérmen do seu aperfeiçoamento.
O homem não pode retrogradar ao estado inicial, tem ele que progredir incessantemente, não podendo voltar ao estado anterior.
Faz parte da lei, a necessidade daquele que é mais evoluído ajudar ao que se encontra na retaguarda.
O progresso moral vem após o progresso intelectual, porque através deste distinguimos o bem e o mal, podemos escolher o caminho a seguir, e com isso aumentando nossa responsabilidade.
O homem não pode paralisar o progresso, mas pode dificultá-lo, sendo por isso punido pela própria Lei.
Quando um povo insiste em progredir de maneira mais lenta que a esperada, o Criador o sujeita de tempos a tempos, a um abalo físico ou moral que o transforma.
O orgulho e o egoísmo são os maiores obstáculos ao progresso moral do Espírito.
Há dois tipos de progresso: o intelectual e o moral. O primeiro, como já foi dito, antecede ao segundo, apesar de este nem sempre vir imediatamente após aquele. É que a Humanidade insiste em valorizar mais o intelecto, devido ao seu alto grau de imediatismo, mas há de chegar o momento em que eles caminharão lado a lado.
Há um progresso na civilização, embora incompleto, porque sendo o homem ainda imperfeito, tudo o que é criação dele, denota instabilidade.
A civilização completa será uma conseqüência do desenvolvimento moral da Humanidade, ou seja, só poderemos dizer-nos civilizados, quando tivermos banido de nossa sociedade, os vícios, e quando vivermos como irmãos, praticando a caridade cristã.
Poderia viver o homem regido simplesmente pelas leis naturais, se ele as compreendesse. Como isso nem sempre é possível, cria ele leis humanas que por refletir suas instabilidades, evolui à medida de sua própria evolução.
Destruindo o materialismo, dando ao homem a compreensão da vida futura, fazendo vê-lo esta como um efeito da atual, e revivendo, como conseqüência deste entendimento, a moral cristã, o Espiritismo pode e contribui em muito com o progresso da Humanidade. Cabendo a nós, espíritas, o dever de ampliar o seu entendimento através da vivenciação do que já conhecemos.

Da Perfeição Moral

A perfeição é a grande meta do Espírito.
Vimos anteriormente que passa ele por várias etapas evolutivas objetivando sempre o progresso, no afã de conquistar este estado que chamamos de perfeição.
Mas qual é a característica do homem que já atingiu este estado?
Allan Kardec, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, diz que “o verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade (...)”[13] e que, quando consulta sua consciência sobre seus atos, vê que fez todo o bem possível, que não se perdeu na ociosidade e que ninguém tem nada a queixar-se dele.
Tem fé em Deus, na vida futura, possuindo em si de uma maneira desenvolvida o sentimento de amor e caridade e sabe que todas as vicissitudes que enfrenta têm um valor significativo na economia da vida, passando-as por isso com resignação.
Enumera o Codificador vários outros valores que dignificam o caráter deste homem, mas deixando claro que muitos outros ele ainda os tem.
Mas como atingir este estado?
Dizem os Espíritos que a prática da virtude em detrimentos dos nossos vícios é, sem dúvida, a forma mais rápida de chegarmos lá.
Alertam ainda na questão 894, de “O Livro dos Espíritos”, que há virtude sempre que resistimos ao arrastamento de nossos maus pendores, e continuam: “A mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade.”
E na questão 895 da obra citada, afirmam que a maior característica da imperfeição é o interesse pessoal.
Raciocinando sob estas valiosas informações, temos então que o personalismo é causa atuante da imperfeição, e se quisermos progredir moralmente, temos que bani-lo de nossa intimidade.
A respeito das paixões, ainda são os Espíritos que informam que, quanto ao princípio que lhes dá origem, não é maléfica, “o abuso que delas se faz é que causa o mal.”[14] Visto assim, deduzimos com o Codificador que, quando dominamos a paixão, ela é útil, quando somos dominados por ela, caímos em excesso e geramos o mal.
Sobre os vícios, o próprio Codificador é quem pergunta: “Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical? E os Espíritos respondem: Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. (...)”[15]
Mas como vencê-lo? Sabemos que esta é das uma tarefa mais difíceis, visto ele estar enraizado em nosso psiquismo, mas nos alertam os maiores da espiritualidade que ele é sempre maior quanto maior for a influência das coisas materiais sobre nós, e como conseqüência a melhor maneira de vencê-lo é o desprendimento dos bens do mundo.
E respondendo ainda àquela pergunta de como atingirmos o estado da perfeição, Santo Agostinho nos faz lembrar a famosa frase divulgada por Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”[16], a que nós completamos com a de Jesus:

“Conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará”[17].


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[1] ABREU, Honório Onofre. “Evolução.” Temas da Atualidade (Grupo Espírita Evolução).
[2] XAVIER, Francisco C./ Waldo Vieira pelo Espírito André Luiz. Evolução em Dois Mundos, 13a Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1993, pg. 35 e 36
[3] ARMOND, Edgar. Os Exilados da Capela. São Paulo: Editora Aliança, 1987, cap. IV
[4] Idem, Ibidem.
[5] Id. ib., Cap. V
[6] Id. ib., Cap. VI
[7] XAVIER, Francisco C./Emmanuel (Espírito). A Caminho da Luz, 10ª Ed. Rio de Janeiro:  FEB, 1980,  cap. 3, pg. 34
[8] “O SENHOR Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado”.
[9] (XAVIER/Emmanuel 1980), cap. 3, pg. 35 e 36
[10] Mateus, 15: 24
[11] (ABREU 1982)
[12] PERALVA, Martins. O Pensamento de Emmanuel, 5ª ed. Brasília: FEB, 1994, Pg 103
[13] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 104ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991, Pg. 284
[14] ------ O Livro dos Espíritos. 50ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980. Q. 907
[15] Idem, ibidem, Q. 913
[16] Id., ib., Q. 919
[17] João, 8: 32

sexta-feira, agosto 18, 2017

Perispírito

Introdução ao estudo do Corpo Espiritual

É já de muitas eras a intuição do homem acerca da existência do que hoje chamamos de Perispírito.
Entre os homens primitivos, no alvorecer da humanidade, dão-lhe o estranho nome de Corpo Sombra; nas apreciáveis lições do Vedanta apareceu como Manu, Maya e Kosha, era conhecido no Budismo esotérico por Kama – rupa, enquanto no Hermetismo egípcio surgiu na qualidade de Kha ou Kã, para avançar, na Cabala hebraica, como manifestação de Rouach. Chineses, gregos e latinos tinham conhecimento de sua realidade, identificando-o seguramente. Pitágoras, mais afeiçoado aos estudos metafísicos, denominava-o carne sutil da alma, e Aristóteles, na sua exegese do complexo humano, considera-o corpo sutil e etéreo. Os neoplatônicos, de Alexandria, dentre os quais Orígenes, identificava-o como aura; Tertualino, o gigante inspirado da Apologética, nele via o corpo vital da alma, enquanto Proclo o caracterizava como veículo da alma, definindo em cada expressão os atributos de que o consideravam investido. Paulo de Tarso designava-o Corpo Celeste, e na cultura moderna, Paracelso, no século XVI, detectou-o sob a designação de corpo astral. Logo depois, substituindo os conceitos panteístas de Spinoza pela teoria dos “átomos espirituais ou mônadas”, surpreendeu-o dando a denominação de corpo fluídico.
Mas foi só com “O Livro dos Espíritos” que surgiu na história do pensamento, a primeira descrição racional e objetiva do Perispírito.
É na questão 93 da referida obra que o Codificador começa a tratar do tema, fazendo a seguinte pergunta aos Espíritos:
O Espírito, propriamente dito, nenhuma cobertura tem, ou, como pretendem alguns, está sempre envolto numa substância qualquer? Ao que eles nos respondem:
Envolve-o uma substância, vaporosa para os teus olhos, mas ainda bastante grosseira para nós; assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira.
E em uma observação própria, logo abaixo, Kardec comenta: Envolvendo o gérmen de um fruto, há o perisperma; do mesmo modo, uma substância que, por comparação, se pode chamar perispírito, serve de envoltório ao Espírito propriamente dito.
Podemos então afirmar que, a partir do entendimento da explicação de Kardec, o perispírito é o corpo do Espírito. É com ele que a individualidade espiritual apresenta-se quando desencarnada ou em desdobramento.
É formado do fluido universal de cada globo, por isso não é igual em todos os mundos.
Sobre este fluido nos afirmam os Espíritos, ser ele a matéria básica do Universo, e é de suas inumeráveis transformações que surgem os envoltórios perecíveis do Espírito: o corpo e o perispírito.
Desta forma, entendemos que o corpo carnal tem seu princípio de origem nesse mesmo fluido condensado e transformado em matéria tangível. No Perispírito, a transformação na natureza do fluido se opera diferentemente, porquanto este conserva a sua imponderabilidade e suas qualidades etéreas.
Evolui com o Espírito, à medida que este aperfeiçoa-se moralmente. Quando passa de um mundo para outro, o Espírito muda de envoltório, ou seja, muda a constituição do perispiríto.
Quanto à sua forma, devido às suas propriedades que vamos estudar mais adiante, o corpo espiritual toma a que o Espírito queira, desde que este possua elevação para tal. Caso contrário, sob a influência das leis que regem o mundo mental, ou sob a ação de entidades cruéis, como acontece nos processos de zoantropia e licantropia , pode haver alterações na forma perispirital, independente da vontade do Espírito.

Funções e Propriedades do Perispírito

Funções
O perispírito é a estrutura modeladora, organizadora e gerenciadora do corpo físico; molde energético onde se encontram os mecanismos responsáveis por todas as funções orgânicas, desde a seleção dos princípios hereditários até a organização da célula ovo e seu desenvolvimento num organismo complexo. Ele contém a matriz filogenética das principais etapas evolutivas do ser.

Em seu bojo se radicam os centros funcionais que dirigem e controlam as emissões arquetípicas do inconsciente profundo, geradoras das funções fisiopsíquicas dos seres vivos, mais especificamente da espécie humana, onde se apresentam altamente complexas e refinadas.1

Estando portanto sediadas nele, as gêneses patológicas de distúrbios dolorosos quais a esquizofrenia, a epilepsia, o câncer de variada etiologia, o pênfigo … que em momento próprio favorece a sintonia com microorganismos que se multiplicam desordenadamente e tomam de assalto o campo físico através de sintonias próprias, ensejando a aceleração das perturbações psíquicas de largo porte.

É ainda o veículo onde são gravados os resultados do processo evolutivo do homem, isto é, o fruto das interações dos seres com o meio ambiente em sua globalidade.2
 
As experiências existenciais, repetidas, são neles fixadas como reflexos condicionados psicossomáticos, tornando-se substratos condutores dos processos mentais e fisiológicos.
Através dos estudos mediúnicos contemporâneos, bem como das reflexões de notáveis pesquisadores e pensadores espiritistas de ontem e de hoje, constatamos que as atividades do perispírito abrangem inclusive a dimensão psicológica, sendo não só responsável pelo controle do automatismo fisiológico, mas sediando igualmente o registro dos fatos de ordem psíquica, como a memória, os inconscientes passado e atual, enfim, todos os fenômenos mentais.
Como sede da memória, garante a conservação intacta da individualidade, através da esteira das reencarnações. Se faz responsável também pela transmissão ao Espírito das sensações que o corpo experimenta, como ao corpo informa das emoções procedentes das sedes do Espírito, em perfeito entrosamento de energias entre os centros vitais ou de força, que controlam a aparelhagem fisiológica e psicológica e as reações somáticas, que lhes exteriorizam os efeitos do intercâmbio.

Propriedades

O perispírito, por sua tessitura, organização, flexibilidade e expansibilidade, fornece inúmeras condições de ação ao Espírito, mesmo quando encarnado, condições essas que podemos chamar de propriedades do perispírito, sem, com isso, desconhecermos que o propulsor de toda e qualquer ação é o Espírito.
Para que essas propriedades se tornem evidentes, é necessário se atenda às leis dos fluidos, no que tange as suas condições de afinidade, quantidade necessária e qualidade dos fluidos, além de em alguns casos, o conhecimento e a elevação moral do Espírito que manuseia tais fluidos. Sinteticamente, teríamos: aparições, tangibilidade, penetrabilidade, transfiguração, e emancipação.
Por sua natureza e em seu estado normal, o perispírito é invisível, tendo isso de comum com uma imensidade de fluidos que sabemos existir, mas que nunca vimos. Pode também como alguns fluidos, sofrer modificações que o tornam perceptível à vista, quer por uma espécie de condensação, quer por uma mudança na disposição molecular. Pode mesmo adquirir as propriedades de um corpo sólido e tangível e retomar instantaneamente seu estado etéreo e invisível.
Matéria nenhuma lhe opõe obstáculo; ele as atravessa todas, como a luz atravessa os corpos transparentes. Daí vem que não há como impedir que os Espíritos entrem num recinto inteiramente fechado. Eles visitam o preso no seu cárcere tão facilmente como visitam a um que está no campo a trabalhar.
O perispírito das pessoas vivas goza das mesmas propriedades que o dos desencarnados. Ele não se acha confinado no corpo; irradia e forma em torno deste uma espécie de atmosfera fluídica. Ora, pode suceder que, em certos casos e dadas as mesmas circunstâncias, ele sofra uma transformação análoga à já descrita: a forma real e material do corpo se desvanece sob aquela camada fluídica , se assim podemos exprimir, e toma por momentos uma aparência inteiramente diversa, mesmo a de outra pessoa ou a do Espírito que combina seus fluidos com os do indivíduo, podendo também dar a um semblante feio um aspecto bonito e radioso. Tal fenômeno se designa pelo nome de transfiguração, e é produzido, principalmente, quando as circunstâncias ocorrentes provocam mais abundante expansão de fluido.
A emancipação da alma é a propriedade que o Espírito tem de se desprender do corpo no instante em que este dorme. Aproveita-se o Espírito (através do perispírito) do repouso do corpo e dos momentos em que sua presença não é necessária para atuar isoladamente e ir aonde quiser, no gozo, então, de sua liberdade e da plenitude das suas faculdades.
A independência e a emancipação da alma se manifestam, de maneira evidente, também, no fenômeno do sonambulismo natural e magnético, na catalepsia e na letargia.
A faculdade de emancipar-se e de desprender-se do corpo durante a vida pode dar lugar a fenômenos análogos aos que os Espíritos desencarnados produzem. Enquanto o corpo se acha mergulhado em sono, o Espírito, transportando-se a diversos lugares, pode tornar-se visível e aparecer sob a forma vaporosa, quer em sonho, quer em estado de vigília. Pode igualmente apresentar-se sob forma tangível, ou, pelo menos, com uma aparência bem idêntica à realidade. Esse fenômeno, aliás muito raro, é que se denomina de bicorporeidade.
Por muito extraordinário que seja, tal fenômeno, como todos os outros, se compreende na ordem natural das coisas, pois que decorre das propriedades do perispírito e de uma lei natural.

Centros de Força

Centros de força ou centros vitais são acumuladores e distribuidores de força espiritual, situados no perispírito, pelos quais transitam os fluidos energéticos. Não constituem parte intrínseca da estrutura do Espírito, pois são, como já dissemos, instrumentos desenvolvidos no corpo espiritual, com o fim de realizar as adequações devidas entre os aspectos exteriores e interiores da realidade espiritual no ser imaterial.
Informa André Luiz, em Evolução em dois Mundos, que:

São os centros vitais fulcros energéticos que, sob a direção automática da alma, imprimem às células a especialização extrema, pela qual o homem possui no corpo denso, e detemos todos no corpo espiritual em recursos equivalentes, as células que produzem fosfato e carbonato de cálcio para a construção dos ossos, as que se distendem para a recobertura do intestino, as que desempenham complexas funções químicas no fígado, as que transformam em filtros do sangue na intimidade dos rins e outras tantas que se ocupam do fabrico de substâncias indispensáveis à conservação e defesa da vida nas glândulas, nos tecidos e nos órgãos que nos constituem o cosmo vivo de manifestação.3

Informa ainda o instrutor Clarêncio, na obra Entre a Terra e o Céu, do mesmo autor espiritual:

(...) o nosso corpo de matéria rarefeita está intimamente regido por sete centros de forças, que se conjugam nas ramificações dos plexos que, vibrando em sintonia uns como os outros, ao influxo do poder diretriz da mente, estabelecem para o nosso uso, um veículo de células elétricas, que podemos definir como sendo um campo eletromagnético, no qual o pensamento vibra em circuito fechado. E completa: (...) nossa posição mental determina o peso específico do nosso envoltório espiritual e, consequentemente, o habitat que lhe compete, (...) tal seja a viciação do pensamento, tal será a desarmonia dos centros de força.

Centro Coronário
Sobre este centro vital, André Luiz afirma que temos particularmente nele o ponto de interação entre as forças determinantes do Espírito e as forças fisiopsicossomáticas organizadas.
Dele partindo, desse modo,

(...) a corrente de energia vitalizante formada de estímulos espirituais com ação difusível sobre a matéria mental que o envolve, transmitindo aos demais centros da alma os reflexos vivos de nossos sentimentos, idéias e ações, tanto quanto esses mesmos centros, interdependentes entre si, imprimem semelhantes reflexos nos órgãos e demais implementos de nossa constituição particular, plasmando em nós próprios os efeitos agradáveis ou desagradáveis de nossa influência e conduta.
A mente elabora as criações que lhe fluem da vontade, apropriando-se dos elementos que a circundam, e o centro coronário incumbe-se automaticamente de fixar a natureza da responsabilidade que lhe diga respeito, marcando no próprio ser as conseqüências felizes ou infelizes de sua movimentação consciencial no campo do destino.4

Notamos através desta afirmativa que o centro coronário tem a função de supervisionar os outros centros vitais e que ele é o responsável pela implementação da lei de causa e efeito na intimidade do Ser Espiritual.
Centro Cerebral
Está contíguo ao centro coronário, que ordena as percepções de variada espécie, que, na vestimenta carnal, constituem a visão, a audição, o tato e a vasta rede de processos da inteligência que diz respeito à palavra, à cultura, à arte, e ao saber. É no centro cerebral que possuímos o comando do núcleo endócrino, referente aos poderes psíquicos.
Centro Laríngeo
É o centro vital que preside aos fenômenos vocais, inclusive as atividades do timo, da tireóide e das paratireóides, controlando notadamente a respiração e a fonação.
Centro Cardíaco
É o que sustenta os serviços da emoção e do equilíbrio geral, dirigindo a emotividade e a circulação das forças de base.
Centro Esplênico
Conforme orientação dada pelo ministro Clarêncio na obra Entre a Terra e o Céu, o Centro Esplênico regula a distribuição e a circulação adequada dos recursos vitais em todos escaninhos do veículo de que nos servimos. Relativo ao corpo denso, ele está situado na região do baço.
Centro Gástrico
Responsabiliza-se pela penetração de alimentos e fluidos em nossa organização, é pela digestão e absorção dos alimentos densos ou menos densos que, de qualquer modo, representam concentrados fluídicos penetrando-nos a organização.
Centro Genésico
Neste centro se localiza o santuário do sexo, como templo modelador de formas e estímulos criadores, com vistas ao trabalho, à associação e à realização entre as almas.

Percepções, Sensações e Sofrimentos dos Espíritos

A Espiritualidade afirma que, quando de sua volta para o mundo dos Espíritos, a alma conserva as percepções que tinha quando encarnada na Terra, e que desabrocham-lhes outras, porque o corpo funciona como um véu, obscurecendo-a.
Sobre esta questão, Allan Kardec realizou no Livro dos Espíritos, um estudo denominado: “Ensaio Teórico da Sensação nos Espíritos”. Devido à importância do tema e da profundidade deste estudo realizado pelo Codificador, vamos fazer um resumo do mesmo, mas deixando claro que para uma boa compreensão do tema, melhor seria um estudo completo do texto que corresponde à questão 257 da obra citada.

O corpo é o instrumento da dor. Se não é a causa primária desta, é pelo menos, a causa imediata.
A alma tem a percepção da dor, mas essa percepção é o efeito.

Apesar de que esta percepção é muitas das vezes dolorosa, podemos afirmar que ela não é física. Ilustramos com um exemplo dado por Kardec: A simples lembrança de uma dor física, pode produzir o efeito da mesma, mesmo que no momento não haja motivo para tal. Isso ocorre porque o cérebro guardou esta impressão, e o perispírito como elemento de ligação entre o Espírito e o corpo, transmite do primeiro para o segundo, impressões, e no sentido contrário, sensações. Resumindo, concluimos que o perispírito é o agente das sensações exteriores.
Quando encarnado, o Espírito tem o sentido dessas sensações no corpo, quando este é destruído, elas se tornam gerais.
Sabemos que no Espírito há percepção, sensação, audição, visão, e que essas faculdades são atributos do ser todo e não, como no homem, de uma parte apenas.
A dor, como já dissemos, não é propriamente física, ainda que muitas vezes o Espírito a reclama ou diz que sente frio ou calor. Entendemos que, apesar de muitas vezes ser bastante penosa, ela é mais uma reminiscência do que uma realidade. Entretanto algumas vezes há mais do que isso, como apresenta o ilustre pensador lionês.
A experiência mostra que o perispírito, quando da desencarnação, não se desprende rapidamente da maneira que a maioria supõe, e devido a esta ligação, muitas vezes o Espírito crê-se vivo; vê seu corpo ao lado, sabe que lhe pertence, mas não compreende que esteja separado dele. Essa situação normalmente dura enquanto existe a ligação entre os corpos físico e espiritual.
Relata Kardec o exemplo de um suicida: “Disse-nos certa vez um suicida: Não estou morto, no entanto sinto os vermes a me roerem”. É obvio que os vermes não lhe roíam o perispírito, e muito menos o Espírito. O que eles roíam era o corpo, mas como não havia uma completa separação do corpo e do perispírito, ele tinha uma impressão quase física do que estava acontecendo. Era uma ilusão, não uma realidade, embora o sentimento parecesse real. Neste caso não podemos dizer que o que ele sentia era uma reminiscência, conclui Kardec, porquanto ele não fora em vida, roído pelos vermes: havia o sentimento de um fato da atualidade. Isto nos favorece uma gama de ensinamentos muito importantes, se observarmos atentamente os fatos.
Sobre os Espíritos superiores, o Codificador nos informa que eles não sentem nenhuma influência da matéria. Não sentindo dor ou qualquer sentimento originado por este elemento. O som dos nossos instrumentos, o perfume das nossas flores nenhuma impressão lhes causam. Entretanto, eles experimentam sensações íntimas, de um encanto indefinível, das quais idéia alguma podemos formar, porque a esse respeito, somos quais cegos de nascença diante da luz.
Quando Kardec afirma que os Espíritos são inacessíveis às impressões da matéria que conhecemos, se refere aos Espíritos muito elevados, cujo envoltório etéreo não encontra analogia neste mundo. Quanto aos mais atrasados, cujo o perispírito é mais denso, percebem os sons, os odores, etc., porém, apenas por uma parte limitada de suas individualidades, conforme quando encarnados.
Esta teoria pode trazer alguma frustração para aqueles que pensavam que o sofrimento e as dores terminariam com a destruição do corpo físico, mas notamos que ela é bem lógica e expressa a justiça do Criador, na medida em que vincula o sofrer do Espírito à maneira vivida por ele, quando encarnado. Se procuramos na vida terrena somente a satisfação dos gozos materiais, vamos encontrar um sofrimento a posteriore. Todavia, se a vida para os valores do Espírito imortal, é a nossa busca, seremos tranqüilamente bem-aventurados, pois atingiremos aquele estado em que Jesus disse: Bem aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.
Podemos concluir, então, que pode haver sofrimento por parte do Espírito no plano espiritual, mas este sofrimento será sempre menor à medida em que nos elevarmos moralmente.
Meditemos portanto nas palavras daquele que é o “Mestre dos mestres, o Sábio dos sábios”:

“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde os ladrões não minam nem roubam.” Mateus, 6: 19 e 20

Notas :

1 - Argolo, Djalma Mota, Possibilidades evolutivas, pág.115 ed.  Mnêmio Túlio, 1994

2 - Argolo, Djalma Mota, Possibilidades evolutivas, pág.116 ed.  Mnêmio Túlio, 1994


3 - Evolução em Dois Mundos,  pág. 28

4 - Evolução em Dois Mundos,  pág 27 e 28

quarta-feira, agosto 16, 2017

Jesus

1 - Governador Espiritual da Terra

Desde os primeiros momentos do cristianismo oficial, a figura ímpar do meigo Rabi da Galiléia vem sendo confundida com o próprio Deus.
Baseado em errôneas interpretações dos textos evangélicos, muito se tem discutido sobre o tema. Jesus é sem sombra de dúvida a personalidade mais biografada de todos os tempos, e a Bíblia, onde no Velho Testamento é previsto a sua vinda e no Novo temos ensinada a sua Moral, é o livro mais vendido de toda a história editorial.
Coube ao Espiritismo as elucidações necessárias sobre a personalidade augusta do Mestre e mostrar a quem possa interessar que Jesus não é Deus, mas um Espírito criado sem nenhum favorecimento, e que, como todos os demais, foi submetido a uma inevitável marcha de evolução e, de acordo com grau de maturidade intelectual e moral que alcançou, faz parte da Comunidade de Espíritos Puros que auxiliam o Criador a manter a harmonia e a ordem no Universo.
O Espírito Emmanuel, algum tempo depois da Codificação Espírita, nos informa que Jesus é o Governador Espiritual da Terra. Assim nos descreve ele em seu livro A Caminho da Luz:


Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os fenômenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de Espíritos Puros e Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias
Essa comunidade de seres angélicos e perfeitos, da qual é Jesus um dos membros divinos, ao que nos foi dado saber, apenas já se reuniu, nas proximidades da Terra, para a solução de problemas decisivos da organização e da direção do nosso planeta por duas vezes no curso dos milênios conhecidos.
A primeira, verificou-se quando o orbe terrestre se desprendia da nebulosa solar, a fim de que se lançassem, no Tempo e no Espaço, as balizas do nosso sistema cosmogônico e os pródromos da vida na matéria em ignição, do planeta, e a segunda, quando se decidia a vinda do Senhor à face da Terra, trazendo à família humana a lição imortal do seu Evangelho de amor e redenção.1

Notamos que esta afirmativa de Emmanuel, nos esclarece acerca das informações anotadas pelo evangelista João, nos primeiros movimentos de seu livro:

No princípio era o Verbo, e o verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. (João, 1:1 a 3)

Não podemos entender este “princípio”, como o início da Criação Divina, porque não é dado a nós saber sobre isto ainda, até porque, aprendemos com a Doutrina Espírita que Deus é eterno, isto é, não teve princípio nem terá fim. O “princípio” aqui, quer dizer do nosso Orbe, e nele conforme mostra Emmanuel, Jesus estava no princípio com Deus, e sem Ele, nada do que foi feito se fez.

Como Governador Espiritual da Terra, Jesus diligencia recursos. Ainda antes da fundação do mundo, trabalhou, por intermédio de seus cooperadores na intimidade dos elementos químicos na estruturação geológica do globo; após a cessação das convulsões que levaram à acomodação das energias encadeadas, atua com seus prepostos no grande laboratório de experiências biológicas na fixação das normas adequadas ao mundo que se delineava; supervisiona o trabalho laborioso de ajustamento dos mamíferos superiores às linhas psíquicas e morfológicas do homem na terra, agindo em implementos celulares de que redundou o aparecimento de tipos diversos, catalogados hoje como parapitecos, propliopitecos, (...) ascendentes da humanidade que hoje pisa orgulhosamente o solo do planeta.2

Portanto, Jesus é um dos agentes diretos de Deus. Esses Espíritos que se fizeram puros são as inteligências que animam, santificam e presidem à formação dos universos, das galáxias etc.
Os grandes missionários ligados aos povos antigos e as diversas raças estiveram e estão a serviço do Cristo, todos os profetas de que a Bíblia faz menção foram médiuns predestinados a servirem ao pensamento Dele. É assim que os Provérbios, os Salmos, o Pentateuco Mosaico, o Eclesiastes e também os livros de Confúcio, o livro dos Vedas, as filosofias de Buda, Sócrates e outros são incontestavelmente inspiradas pelo Divino Mestre.
E tanto era Jesus quem dirigia os povos de todos os tempos, que Ele mesmo nos disse:

“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!” Mateus, 23:37

2 - A Vida de Jesus – Contexto Histórico

No livro Boa Nova, o Espírito Humberto de Campos nos faz o seguinte relato sobre o período que antecedeu a vinda do Mestre até nós:

Os historiadores do Império Romano sempre observaram com espanto os profundos contrastes na gloriosa época de Augusto.
Caio Júlio César Otávio chegara ao poder, (...), por uma série de acontecimentos felizes.(...)
Uma nova era principiara com aquele jovem enérgico e magnânimo. O grande império do mundo, como que influenciado por um conjunto de forças estranhas, descansava numa onda de harmonia e de júbilo, depois de guerras seculares e tenebrosas.(...)
(...) A paisagem gloriosa de Roma jamais reunira tão grande número de inteligências. É nessa época que surgem Virgílio, Horácio, Ovídio, Salústio , Tito Lívio e Mecenas, (...)
É que os historiadores ainda não perceberam, na chamada época de Augusto, o século do Evangelho ou da Boa Nova. Esqueceram-se de que o nobre Otávio era também homem e não conseguiram saber que, no seu reinado, a esfera do Cristo se aproximava da terra, numa vibração profunda de amor e de beleza. Acercavam-se de Roma e do mundo não mais Espíritos belicosos, como Alexandre ou Aníbal, porém outros que se vestiriam dos andrajos dos pescadores, para servirem de base indestrutível aos eternos ensinos do Cordeiro. Imergiam nos fluidos do planeta os que preparariam a vinda do Senhor e os que se transformariam em seguidores humildes e imortais dos seus passos divinos.(...)

Entre esses Espíritos, destaca-se a iluminada figura de Maria de Nazaré, que aceitou do Plano Maior da Vida a missão de ser a mãe daquele que o mundo conheceria como o “Salvador”.
Qualquer narrativa em torno da incomparável personalidade de Jesus, ou da evocação dos seus feitos insuperáveis, não pode prescindir de uma análise, superficial que seja, da terra onde ele viveu e do povo que a habitava.
Somente assim, se poderá compreender a posição por Ele assumida ante as transitórias governanças política e religiosa então vigentes, características desse povo sofredor, destemido e temente a Deus, que vivia num verdadeiro oásis de monoteísmo, situado num imenso deserto de politeísmo, no qual se desenvolveram as civilizações da antigüidade.
A Palestina, que literalmente significa “terra dos filisteus”, está encravada entre o Mediterrâneo, o Líbano, o deserto da Síria, na região denominada Oriente Próximo. Inicialmente, a sua localização geográfica a punha na encruzilhada das grandes e indispensáveis rotas comerciais, que levaram, na Ásia Menor, do Egito, à Mesopotâmia e à Arábia.
Graças a isso, experimentou sucessivas invasões dos egípcios, mesopotâmios, persas e, por fim, dos romanos, que a destroçaram por largos séculos.
Pelos acontecimentos históricos que ali tiveram lugar, foi denominada como “Terra Santa” face às ocorrências bíblicas que lhe deram notoriedade, unindo fatos e revelações humanas, como espirituais, igualmente por se tornar o lugar de nascimento de Jesus.
A Judéia e os hebreus ofereciam todos os requisitos para o sucesso da missão salvacionista de Jesus. O Velho Testamento sempre considerou o povo judeu como eleito para o advento do Messias prometido.
Com o nascimento do menino Jesus, há como que uma comunhão direta do céu com a terra.
Esse é um momento especial de sua missão ininterrupta. Nasce e cresce no seio de um povo e de uma raça que sempre se caracterizou pela crença no Deus único e que já havia merecido a presença de adiantados Espíritos preocupados em reafirmar ao povo antigas crenças no seu Deus, fé inabalável, transmitindo-lhe adiantada legislação de ordem moral e civil e constantes advertências através do profetismo.
Desde seu aparecimento na Terra, até sua volta aos Páramos Celestes, Jesus, o Messias anunciado e esperado durante séculos, ensinou aos homens as leis de Deus, usando diferentes métodos e formas, mas especialmente através da exemplificação.
Seu nascimento na manjedoura, nos diz Emmanuel: assinalava o ponto inicial da lição salvadora do Cristo, como a dizer que a humildade representa a chave de todas as virtudes3. Seu crescimento, no seio da família é exemplo de obediência aos pais; sua sabedoria já é destaque aos doze anos, e por volta dos trinta inicia publicamente sua missão, que se desenvolve por três anos; e nos momentos derradeiros dá mostra de submissão aos desígnios do Pai, aceitando uma crucificação injusta e infamante, como a definir que, se quisermos ressurgir como Espíritos em glória, temos que aceitar o momento difícil e solitário da crucificação que diz respeito a cada um.
Ainda durante a sua vida terrena, mostra o poder e o amor de Deus, o criador de todas as coisas, e, que amar ao próximo como a si mesmo é o maior de todos os mandamentos.
Com sua autoridade incontestável, mostra o sentido exato das leis divinas, contrariando usos e costumes do povo hebreu, quando estes não estavam de acordo com o objetivo maior da vida.
Seu poder e domínio sobre a matéria visível e sobre os fluidos são continuamente evidenciados nas mais diferentes curas de cegos, paralíticos, e de variadas doenças físicas. Sua hierarquia espiritual é incontestável ao expulsar demônios (espíritos rebeldes), curar possessos, e ao impor respeito e autoridade moral a legiões de espíritos inferiores, maus e perseguidores. Seus métodos de ensino e transferência de conhecimentos são modernamente conhecidos como os mais eficazes nos campos psicológico e didático, utiliza o exemplo, a palavra, os fenômenos e os elementos da natureza. Sua linguagem é apropriada aos ouvintes e às circunstâncias. A parábola e as experiências mais conhecidas de todos são continuamente utilizadas em suas prédicas. Demonstrou que o importante não era vencer no mundo, mas vencer o mundo. Estar aqui, mas sem ser daqui.
Sua mensagem, como enviado de Deus, imortalizou-se para beneficiar toda a Humanidade. Ao contrário dos valores vivenciados pelos homens, sua força extraordinária é constituída pela bondade, pela humildade, pela paciência , pelo amor, e pela fé absoluta no Poder Supremo.
Em lugar de amigos poderosos, recrutou homens simples, sinceros e humildes, com os quais contou para universalizar sua mensagem. Assim continua a falar, através do seu Evangelho de amor, aos discípulos de ontem e de hoje, aos mansos, aos que têm puro o coração, aos misericordiosos e aos pacificadores.
Para a generalidade dos estudiosos, o Cristo permanece tão somente situado na história, modificando o curso dos acontecimentos políticos do mundo; para a maioria dos teólogos, é simples objeto de estudo, nas letras sagradas, imprimindo novo rumo às interpretações da fé; para os filósofos, é o centro de polêmicas infindáveis; e para a multidão dos crentes inertes, é o benfeitor providencial nas crises inquietantes da vida comum
Todavia, quando o homem percebe a grandeza da “Boa Nova”, compreende que o Mestre não é apenas o legislador da crença, o reformador da civilização, o condutor do raciocínio ou o doador de facilidades terrestres, mas também, acima de tudo, o “Guia e Modelo” para a vida de cada um.

3 – Fatos Extraordinários da Vida de Jesus

Desde o princípio dos tempos, o homem classifica como extraordinário ou milagroso, fatos que ele ainda não tem como explicar. Etimologicamente, a palavra milagre significa: admirável, coisa extraordinária, surpreendente. No sentido teológico, é uma derrogação das leis da natureza.
Quando o véu que cobre o mistério é levantado em nome da ciência, o que era milagroso passa `a conta de fato natural. Desde que um acontecimento possa ser reproduzido pela experimentação ou por qualquer outro método, deixa de possuir caráter sobrenatural.
Os milagres relatados no Evangelho, na sua maioria pertencem à ordem dos fenômenos psíquicos, isto é, têm como causa primária as faculdades e os atributos da alma.
Jesus, assim, não praticou milagres que não pudessem ser explicados racionalmente.
Em conclusão, podemos afirmar que não há milagres no sentido comum do termo, na acepção vulgar da palavra, porque tudo o que acontece é decorrente das leis eternas da criação, leis perfeitas e imutáveis, e Jesus na sua alta categoria espiritual, jamais iria derrogar leis; muito pelo contrário, quanto maior a evolução de um Espírito, maior é sua obediência à vontade do Pai.
Ele mesmo nos afirmou: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra. (João, 4:34)
Enumeramos a seguir alguns fatos tidos como miraculosos que, explicados à luz da Ciência Espírita, são facilmente compreendidos:

A Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém

E quando se aproximaram de Jerusalém, e chegaram a Betfagé, ao monte das Oliveiras, enviou então Jesus dois discípulos, dizendo-lhes: Ide à aldeia que está defronte de vós, e logo encontrareis uma jumenta presa, e um jumentinho com ela; desprendei-a, e trazei-mos.(...) E indo os discípulos, e fazendo como Jesus lhes ordenara, trouxeram a jumenta e o jumentinho (...) Mateus, 21:1, 2, 6 e 7
Nada apresentam de surpreendentes estes fatos, desde que se conheça o poder da dupla vista e a causa muito natural dessa faculdade. Jesus a possuía em grau elevado, e pode-se dizer que ela constituía o seu estado normal, conforme o atesta grande números de atos de sua vida, os quais hoje têm a explicá-los os fenômenos magnéticos e o espiritismo.

A Pesca Milagrosa (Lucas, 5: 1 a 7), A Vocação de Pedro, André, Tiago, João e Mateus (Mateus, 4: 9 e 18 a 22) igualmente se explicam pela dupla vista e acuidade do pensamento. Jesus não produziu peixes onde não os havia; ele os viu, com a vista da alma. Quando chama a si Pedro, André, Tiago, João e Mateus, é que lhes conhecia as disposições íntimas e sabia que eles o acompanhariam e que eram capazes de desempenhar a missão que tencionava confiar-lhes. (Cf. A Gênese, cap. XV.)

Cura dum Cego de Nascença

E, passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus. Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar(...) Tendo dito isto, cuspiu na terra, e com a saliva fez lodo, e untou com o lodo os olhos do cego. E disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que significa o Enviado). Foi pois, e lavou-se, e voltou vendo. João, 9: 1 a 4, 6 e 7

Notamos nesta passagem que os discípulos do Senhor já tinham, mesmo que errônea, uma idéia da reencarnação. Segundo Jesus, essa não era uma cegueira expiatória, mas fazia parte de um processo reencarnatório em bases de cooperação, para que se cumprisse o poder dado por Deus a Jesus. (Trataremos melhor este assunto, quando falarmos a respeito da Reencarnação)
Convém que eu faça as obras(...), enquanto é dia, a noite vem, quando ninguém pode trabalhar(...). Interpretadas ao pé da letra, estas palavras de Jesus são incoerentes. Jesus tinha poder para curar em qualquer hora, seja de dia ou de noite. O que Ele queria dizer com isto é que, se não quisermos sofrer as conseqüências das ações indevidas, temos que deixar Ele atuar em nós, enquanto é dia, ou seja, enquanto há possibilidade; porque a partir do momento em que agimos mal através do nosso livre arbítrio, nos vinculamos a uma reação dolorosa que pode ser qualificada como noite, e noite escura de muitas trevas.
Quanto ao meio empregado para a sua cura, evidentemente aquela espécie de lama feita com saliva e terra nenhuma virtude podia encerrar, a não ser pela ação do fluido curativo de que fora impregnada. É assim que as mais insignificantes substâncias, como a água, por exemplo, podem adquirir qualidades poderosas e efetivas, sob a ação do fluido espiritual ou magnético, ao qual elas servem de veículo ou, se quiserem, de reservatório. (A Gênese, cap. XV)

Ressurreições:


A Filha de Jairo (Marcos,5: 21 a 43) e Filho da Viúva de Naim (Lucas, 7: 11 a 17)

Contrário seria às leis da Natureza e, portanto, milagroso, o fato de voltar à vida corpórea um indivíduo que se achasse realmente morto. Ora, não há mister se recorra a essa ordem de fatos, para ter-se a explicação das ressurreições que Jesus operou.
Se, mesmo na atualidade, as aparências enganam por vezes os profissionais, quão mais freqüentes não haviam de ser os acidentes daquela natureza, num país onde nenhuma precaução se tomava contra eles e onde o sepultamento era imediato. É , pois, de todo ponto provável que, nos dois casos acima, apenas síncope ou letargia houvesse. O próprio Jesus declara positivamente, com relação à filha de Jairo: Esta menina, disse ele, não está morta, mas dorme.
Dado o poder fluídico que ele possuía, nada de espantoso há em que esse fluido vivificante, acionado por uma vontade forte, haja reanimado os sentidos em torpor; que haja mesmo feito voltar ao corpo o Espírito, prestes a abandoná-lo, uma vez que o laço perispirítico ainda não se rompera definitivamente. Para os homens daquela época, que consideravam morto o indivíduo desde que deixara de respirar, havia ressurreição em casos tais; mas, o que na realidade havia era cura e não ressurreição, na acepção legítima do termo.
Aconselhamos a todos a leitura do capítulo XV do livro A Gênese de Kardec, de onde transcrevemos parte do texto acima.
Ainda para uma análise mais minuciosa destas curas como de outras sugerimos os Livros “Jesus Terapeuta Vol. 1 e 2”, de nossa autoria, Editora Itapuã.

4 - Moral Cristã

Allan Kardec inicia o livro O Evangelho segundo o Espiritismo propondo uma divisão em cinco partes, as matérias contidas nos Evangelhos: Os atos comuns da vida do Cristo, os milagres; as predições; as palavras que foram tomadas pela igreja para fundamento de seus dogmas; e o ensino moral. Continua ele: As quatro primeiras têm sido objeto de controvérsias; a ultima porém, conservou-se constantemente inatacável.4
E podemos com certeza afirmar que, se a preocupação com a parte moral tivesse sido prioritária quando da análise dos textos evangélicos, a Humanidade já teria progredido muito mais, e o mundo que habitamos já faria parte dos planos mais evoluídos da criação.

Moral - Conceito

Etimologicamente ética vem do grego ethos; em latim temos com o mesmo significado morale (de onde veio moral), ambas expressões significam conduta, ou relativo aos costumes. Podemos assim concluir que etimologicamente ética e moral são palavras sinônimas, porém não é bem assim.
Para alguns estudiosos do assunto, ética é princípio, moral são aspectos de condutas específicas; ética é permanente, moral temporal; ética é universal, moral é cultural; ética é regra, moral é conduta da regra.
Falando de forma mais simples podemos dizer que ética não é moral, mas que moral é o objeto do estudo da ética, ou seja, ética é a parte da filosofia que estuda a moral.
Concluindo temos que ética é então o regimento, a lei do que seja ato moral, o controle de qualidade da moral, por isso temos os códigos de ética que norteiam as diferentes sociedades.
Para nós espíritas estes conceitos mudam um pouco, pois conforme nos dizem os Espíritos na questão 629 de “O Livro dos Espíritos”, a moral funda-se na observância da Lei de Deus. Deste modo, se a Lei de Deus é imutável, em última instância, moral também é. Assim, moral não é um conceito temporal ou cultural, mas definitivo. Moral é então maior do que ética, pois a ética evolui, moral não. Em verdade, quando dizemos moral “disso”, ou moral “daquilo” estamos reduzindo o verdadeiro conceito de moral que como dissemos é imutável, pois fundamenta-se na observância da Lei de Deus como nos dizem os Espíritos superiores.
Só para exemplificar o que estamos dizendo, podemos lembrar que há algum tempo atrás era ético ter-se escravos no Brasil, todavia jamais foi uma atitude moral ter-se escravos em qualquer lugar ou época da humanidade. Em algumas sociedades a prática da poligamia é uma atitude ética, porém jamais será uma atitude moral pois é ato contrário à Lei de Deus.
A Moral Cristã está toda baseada no entendimento do que seja Deus, Sua Lei, e na fraternidade decorrida do entendimento real da relação Criador-criatura.
Deus é entendido pelo Cristo, como Pai. E segundo João nos afirma no capítulo 4 de sua 1a epístola, Deus é amor, e continua ele: Se alguém diz eu amo a Deus, e aborrece a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? (I João,4: 8, e 20)
Entendido Deus, e sua relação conosco , temos a chave da compreensão de toda a moral cristã. Por isso, a insistência do Mestre para que nos amássemos uns aos outros, resumo de todos os seus ensinamentos. Moral, segundo o Cristo, é ver em primeiro lugar o interesse do próximo, entendendo como tal, todo aquele que precisa de nós, como nos mostra na Parábola do Samaritano, é dizermos não ao personalismo, é trabalhar não pensando no nosso bem estar, mas em quantos podemos beneficiar com o nosso trabalho.
Quando alguém lhe pedir o vestido, dê-lhe também a capa.
Se alguém te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.
Ame o vosso inimigo.
Ore pelo que vos persegue.
Se amardes somente os que vos amam, que galardão havereis?
Faze isso, e viverás, porque aquele que permanecer na minha palavra será meu discípulo, e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.
E para concluir, ficamos com a visão madura de Joanna de Ângelis:

Jesus se preocupa com a perfeição íntima, ética, intransferível dos homens, conclamando-os a realizarem o “Reino de Deus” interiormente, numa elaboração otimista.
Certamente, a moral cristã ainda não colimou os seus objetivos elevados, conquanto os vinte séculos passados. Todavia, diante dos esforços do Direito e da acentuada luta pacífica das organizações mundiais, a Moral, em diversas apreciações tornadas legais, sancionadas por governos e povos, atingirá, não obstante as dificuldades e transições do atual momento histórico, o seu fanal nos dias do porvir, propondo ao homem moderno, na moderação e eqüidade, nos costumes corretos, aceitos pelo comportamento das gerações passadas, a vivência do máximo postulado do Cristo, sempre sábio e atual: “Fazer ao próximo o que desejar que este lhe faça”, respeitando e respeitando-se, para desfrutar a consciência apaziguada e viver longos dias de harmonia na terra, com felicidade espiritual depois da destruição dos tecidos físicos pelo fenômeno da morte.5

sábado, agosto 12, 2017

Espírito


Dos Elementos Gerais do Universo


Na questão 27 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec questiona a espiritualidade sobre os elementos constitutivos do Universo da seguinte maneira:
Há então dois elementos gerais do Universo: a matéria e o Espírito?, respondem os Espíritos: Sim, e acima de tudo Deus, o Criador, Pai de todas as coisas. Deus, Espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal (...), informam ainda da existência de um elemento intermediário, que é o fluido universal, elemento este que permite ao Espírito exercer ação sobre a matéria.
Toda constituição tangível do Universo parte do elemento básico, o fluido cósmico que, segundo André Luiz, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, é o plasma divino, hausto do Criador ou força nervosa do Todo Sábio.1 Agindo sobre ele, a espiritualidade superior converte-o nas mais variadas expressões. É com ele que os Espíritos Construtores constroem sistemas, constelações, em cujos campos a vida se manifesta e se expande.
Não pode o homem, devido à sua pouca evolução para as questões espirituais, conhecer o princípio das coisas; mas devido à inteligência, atributo superior dado por Deus, tem através da Ciência buscado incessantemente esse conhecimento.
Só que a Ciência humana limitou-se a considerar como únicas realidades existentes, a matéria e a energia. Aprofundando-se, entretanto, no seu conhecimento, chegou à conclusão de que estão de tal modo e tão estreitamente relacionadas, que representam, em verdade, duas expressões de uma só e mesma realidade, não sendo a matéria mais do que energia condensada ou concentrada.
Vemos, desta forma, que a Ciência só considerou na constituição do Universo, o elemento material, quer em seu estado denso, ou em suas manifestações energéticas. Nesta particularidade, é que podemos notar o avanço trazido ao mundo pela Ciência Espírita, definindo o elemento material e o elemento espiritual como constitutivos de tudo que há no Universo.
Nem sempre nos é fácil separar esses dois elementos um do outro, devido aos vários estados em que se pode transformar a matéria. Mas o importante é saber que, como nos afirma Emmanuel, através do médium Chico Xavier, é lícito considerar-se espírito e matéria como estados diversos de uma essência imutável…2 (confirmando a orientação dos Espíritos a Kardec),apesar de o ponto de integração dos dois elementos serem ainda desconhecidos de Espíritos do nosso plano de evolução.
Mas afinal, o que podemos entender como matéria?
Esta pergunta também foi feita por Kardec aos Espíritos, respondendo Eles da seguinte forma:
É o laço que prende o Espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo exerce sua ação.
A partir dessa resposta, o Codificador diz que é através da matéria que o Espirito atua, sendo um elemento essencial para a evolução deste.
E o que é Espírito?
É o princípio inteligente do Universo, afirmam os maiores da espiritualidade, na questão 23 de O Livro dos Espíritos. É importante observar que aí os Espíritos definem o elemento inteligente do universo, e não a individualidade deste, que são os seres inteligentes do Universo, conforme definem na questão 76.
Deus criou o espírito, elemento inteligente, o qual é submetido a longa elaboração através dos diversos reinos da Natureza. No contato com os minerais, vegetais e animais, o princípio inteligente recebe impressões que, pela repetição, vão-se fixando, dando origem a automatismos, reflexos, instintos, hábitos, memória, e acabam por integrar-se em individualidades conscientes, dotadas de razão e vontade, livre-arbítrio e responsabilidade, destinadas a progredir até que adquiram pureza e perfeição que as aproximam da Inteligência Suprema.
Resumindo então, vemos que são dois os elementos do universo: espírito e matéria. O primeiro é o elemento inteligente do universo que, quando individualizado, é o Espírito. O segundo é o elemento material. Todo tipo de matéria que conhecemos é uma modificação da matéria básica, que é o fluido cósmico universal. As propriedades da matéria vêm das modificações que as moléculas elementares sofrem, por efeito da sua união em certas circunstâncias.

Origem e Natureza dos Espíritos


Buscando penetrar na realidade e constituição dos Espíritos, o que desvendaria os enigmas incontáveis da existência, os religiosos de todas as épocas estruturaram nele a base das afirmações éticas, estabelecendo a vida na Terra como conseqüência da vida espiritual, que sempre houve, mesmo sem a existência deste orbe.
Doutrinas exóticas estabeleceram a concepção panteísta do Universo, através da qual os Espíritos seriam fragmentos de Deus, que a Ele se reintegrariam, desaparecendo, portanto, pela destruição da individualidade, nisto incluindo todas as coisas, como partes mesmas da Divindade.
Observações apressadas engendraram teorias outras, igualmente absurdas, tais como a metempsicose, mediante a qual os Espíritos que se não houveram com eqüidade e nobreza na Terra a ela retornam, renascidos como animais inferiores.
A Doutrina Espírita, em seu caráter de filosofia, define que os Espíritos – seres inteligentes da criação – foram criados por Deus, simples e ignorantes, isto é, sem saber, e que através dos milênios realizam sua evolução, passando por variadas experiências nos reinos inferiores da criação, recebendo em sua madureza o atributo do livre-arbítrio, com o qual tornam-se senhores de sua destinação.
Portanto, os Espíritos são seres distintos da Divindade. Sendo obra de Deus, é criação sua. Como e quando foram criados, não sabemos; o que podemos deduzir é que Deus sempre os criou, porque sendo eterno, e jamais tendo ficado ocioso, criou-os ininterruptamente.
São formados do princípio inteligente do Universo, sendo uma individualização deste.
São imortais, isto é, não têm fim.
Quando desencarnados, formam o mundo dos Espíritos, que é o principal; por ser preexistente e sobrevivente a tudo.
Estão por toda parte. Apesar de que nem todos possam ir a qualquer lugar e na hora que quiserem.
Temos muitos deles ao nosso lado, influenciando-nos e sendo por nós influenciados.
São instrumentos de Deus, já que o Criador não opera diretamente sobre a matéria.
Sobre sua forma; eles nos dizem que para nós não a têm determinada, mas para eles; sim.
Se comunicam pelo pensamento, e se locomovem com a rapidez do mesmo.
Mas devemos sempre nos lembrar de que cada Espírito, por ser uma individualidade em evolução, tem suas características próprias de acordo com o seu grau de pureza. E são essas divergências que vamos estudar no próximo ítem.

Escala Espírita

São de diferentes ordens os Espíritos, de acordo com o grau de perfeição que tenham alcançado.
Essas ordens são ilimitadas em número, porque não há entre elas, linhas de demarcação traçadas como barreiras. Todavia, considerando-se os caracteres gerais dos Espíritos, e visando facilitar o estudo, a espiritualidade orientou Allan Kardec no sentido de reduzir estas ordens a três principais.
Na primeira, colocar-se-ão os que atingiram a perfeição: os puros Espíritos. Formam a segunda os que chegaram ao meio da escala: o desejo do bem é o que neles predomina. Pertencerão à terceira os que ainda se acham na parte inferior da escala: os Espíritos imperfeitos. A ignorância, o desejo do mal e todas as paixões más que lhe retardam o progresso, eis o que os caracteriza.
A classificação dos Espíritos se baseia no grau de adiantamento deles, nas qualidades que já adquiriram e nas imperfeições de que ainda terão de despojar-se. Esta classificação, aliás nada tem de absoluta. Apenas no seu conjunto cada categoria apresenta caráter definido. De um a outro grau a transição é insensível.

Terceira ordem
: Espíritos Imperfeitos
Caracteres Gerais: Predomínio da matéria sobre o Espírito; propensão ao mal; ignorância, orgulho, egoísmo e todas as paixões que lhe são conseqüentes. Têm a intuição de Deus, mas não O compreendem; apresentam idéias pouco elevadas. Na linguagem que usam se lhes revela o caráter. A felicidade dos bons lhes trazem aflição e amargura. Conservam a lembrança e a percepção dos sofrimentos da vida corpórea. E como sofrem por longo tempo, julgam que sofrerão para sempre. É a eles que Jesus falava do fogo eterno, não que o suplício fosse para sempre, mas que devido ao grande sofrimento, o ardor seria uma eternidade.
Esta ordem apresenta cinco classes principais:
Décima Classe: Espíritos Impuros – O mal é o objeto de suas preocupações; sua linguagem é grosseira e revela a baixeza de suas inclinações. Alguns povos os arvoraram em divindades maléficas; outros os designam pelos nomes de demônios, maus gênios, Espíritos do mal. Quando encarnados são propensos a todos os vícios geradores das mais sórdidas paixões.
Nona Classe: Espíritos Levianos – São ignorantes e inconseqüentes, mais maliciosos do que propriamente maus; linguagem irônica e superficial. Gostam de causar pequenos desgostos e ligeiras alegrias. A esta classe pertencem os Espíritos vulgarmente tratados de duendes, trasgos, gnomos, diabretes.
Oitava Classe: Espíritos Pseudo Sábios – Possuem conhecimentos bastante amplos, mas julgam saber mais do que sabem; sua linguagem tem caráter sério, misturando verdades com suas próprias paixões e preconceitos.
Sétima Classe: Espíritos Neutros – Apegados às coisas do mundo, sentem saudades de suas grosseiras alegrias. Não são bons o suficiente para praticarem o bem, nem maus o bastante para fazerem o mal.
Sexta Classe: Espíritos Batedores e Perturbadores – Esses não formam uma classe distinta pelas suas qualidades pessoais. Podem pertencer a todas as classes da Terceira Ordem; sua presença manifesta-se por efeitos sensíveis e físicos, como pancadas e deslocamento de corpos sólidos. Parecem ser agentes dos elementos do globo; quer atuem sobre o ar, a água, o fogo, mas é que deles se servem os Espíritos Superiores para produzir esses fenômenos físicos do planeta, quando julgam úteis as manifestações deste gênero.

Segunda Ordem: Bons Espíritos
Caracteres Gerais: Predomínio do Espírito sobre a matéria; desejo do bem; compreendem Deus e o infinito, mas ainda terão de passar por provas; uns possuem a ciência, outros a sabedoria e a bondade; os mais adiantados juntam ao seu saber as qualidades morais. São felizes pelo bem que fazem e pelo mal que impedem. Quando desencarnados, suscitam bons pensamentos, desviam os homens da senda do mal, protegem na vida os que se lhe mostram dignos de proteção. Quando encarnados, são bondosos e benevolentes com seus semelhantes, não os movem orgulho, nem o egoísmo. A essa ordem pertencem os Espíritos designados, nas crenças populares, pelos nomes de protetores, anjos da guarda, Espíritos do bem.
Esta ordem apresenta quatro classes principais:
Quinta classe: Espíritos Benévolos – Seu progresso realizou-se mais no sentido moral do que no intelectual; a bondade é a qualidade dominante.
Quarta Classe: Espíritos Sábios – Amplitude de conhecimentos aplicados em benefício dos semelhantes; têm mais aptidão para as questões científicas do que para as morais.
Terceira Classe: Espíritos de Sabedoria – Elevadas qualidades morais e capacidade intelectual que lhes permitem analisar com precisão os homens e as coisas.
Segunda Classe: Espíritos Superiores – Reúnem a ciência, a sabedoria e a bondade; buscam comunicar-se com os que aspiram à verdade. Encarnam-se na Terra apenas em missão de progresso e caracterizam o tipo de perfeição a que podemos aspirar neste mundo.

Primeira Ordem: Espíritos Puros
Caracteres Gerais: Nenhuma influência da matéria; superioridade intelectual e moral absoluta em relação aos Espíritos das outras ordens.
Esta ordem apresenta apenas uma única classe:
Primeira Classe. Classe Única – Os Espíritos que a compõe percorreram todos os graus da escala e se despojaram de todas as impurezas da matéria. Tendo alcançado a soma de perfeição de que é suscetível a criatura, não têm mais que sofrer provas nem expiações. Não estando mais sujeitos a reencarnação em corpos perecíveis, realizam a vida eterna no seio de Deus.
Gozam de inalterável felicidade, porque não se acham submetidos às necessidades, nem às vicissitudes da vida material. Essa felicidade, porém não é a ociosidade monótona, a transcorrer em perpétua contemplação. Eles são os ministros de Deus, cujas ordens executam para manutenção da harmonia universal.3

Anjos e Demônios

Anjo
Segundo a conceituação da palavra, anjo é o ser espiritual que exerce o ofício de mensageiro entre Deus e os homens.
Todas as religiões têm tido a intuição da existência destes mensageiros sob vários nomes. Já o materialismo, negando a existência espiritual, classifica os anjos como ficção ou alegoria.
A crença nos anjos é parte essencial dos dogmas da igreja. O princípio geral resultante dessa doutrina é que os anjos são seres puramente espirituais, anteriores e superiores à humanidade, criaturas privilegiadas e votadas à felicidade suprema e eterna desde a sua formação, dotadas por sua própria natureza de todas as virtudes e conhecimentos, nada tendo feito para adquiri-los. Estão, por assim dizer, no primeiro plano da criação.
Que haja seres dotados de todas as qualidades atribuídas aos anjos, não restam dúvidas. A Revelação Espírita neste ponto confirma a crença de todos os povos, fazendo-nos conhecer, entretanto, a origem e natureza de tais seres.
Anjos são Espíritos que como todos os outros foram criados, como já dissemos anteriormente, simples e ignorantes, isto é ,sem conhecimentos nem consciência do bem ou do mal, porém aptos a conseguir o que lhes falta através do trabalho árduo da evolução. Se o trabalho é o meio de aquisição da sabedoria, a perfeição é a finalidade. Conseguem-na mais ou menos prontamente em virtude do bom ou mau uso do livre-arbítrio, e na razão direta de seus esforços. Todos têm os mesmos degraus a franquear, o mesmo trabalho a concluir. Deus não aquinhoa melhor a uns do que a outros, porque é a própria Justiça; e, visto serem todos seus filhos, não tem predileções.
Portanto anjos não são seres especiais, mas espíritos que já passaram por este processo. Acham-se no mais alto grau da escala e reúnem todas as perfeições.
Muitas das vezes, são designados com esse nome todos os seres bons e maus que estão fora da humanidade. Diz-se “o anjo bom” e “o anjo mau”; “o anjo de luz” e “o anjo das trevas”. Mas a doutrina quando fala de anjo, refere-se a Espírito Puro. Quanto aos anjos guardiões, espíritos encarregados de proteger-nos e nos livrar do mal, melhor seria chamá-los de “Guias Espirituais” .
A Humanidade não se limita à Terra; habita inúmeros mundos que no espaço circula; já habitou os desaparecidos e habitará os que se formarem.
Muito antes que a Terra existisse e por mais remota que a suponhamos, outros mundos havia, nos quais Espíritos encarnados percorreram as mesmas fases que hora percorrem os de mais recente formação, atingindo seu fim antes mesmo que houvéramos saído das mãos do criador. De toda eternidade tem havido, pois, puros Espíritos ou anjos; mas, como a sua existência humana se passou num longínquo passado, eis que os supomos como se tivessem sido sempre anjos de todos os tempos.
Realiza-se assim a grande lei da unidade da Criação; Deus nunca esteve inativo e sempre teve puros Espíritos, experimentados e esclarecidos para a transmissão de suas ordens e direção do Universo, desde o governo dos mundos até os mais ínfimos detalhes. Tampouco teve Deus necessidade de Criar seres privilegiados, isentos de obrigações; todos, antigos e novos, adquiriram suas posições na luta e por mérito próprio; todos enfim são filhos de sua própria obra.
E, desse modo, completa-se com igualdade a Soberana Justiça do Criador.

Demônio
Do grego. daimónion, pelo lat. daemoniu.
Nas crenças da Antigüidade e no politeísmo, a palavra demônio significa gênio inspirador, bom ou mau, que presidia o caráter e o destino de cada indivíduo. Seria o mesmo que alma, ou espírito.
Nas religiões judaica e cristã, anjo mau que, tendo-se rebelado contra Deus, foi precipitado no Inferno e procura a perdição da humanidade; gênio ou representação do mal; espírito maligno, espírito das trevas; Lúcifer, Satanás, Diabo.
Portanto o termo demônio, na sua origem, não implica idéia do Espírito mau. Só a significação vulgar da palavra nos dá a entender que seriam seres essencialmente malfazejos.
Sendo criação de Deus, e sendo Este soberanamente justo e bom, é ilógico ter criado seres predispostos ao mal por sua natureza, e o que é pior, serem eles condenados por toda a eternidade.
O dogma das penas eternas deve prender-nos a atenção. Arma temível nas mãos da igreja, nas épocas da fé cega, ameaça suspensa sobre a cabeça do homem, ele foi para esta instituição um instrumento incomparável de domínio.
Donde procede essa concepção de satanás e do inferno? Unicamente das noções falsas que o passado nos legou a respeito de Deus. Toda a Humanidade primitiva acreditou nos deuses do mal, nas potências das trevas, e essa crença traduziu-se em lendas de terror, em imagens pavorosas, que se transmitiram de geração a geração, e inspirando grande números de mitos religiosos.
Essas potências malignas foram personificadas, individualizadas pelo homem. Desse modo, criou ele os deuses do mal. E essas remotas tradições, legado das raças desaparecidas, perpetuadas de idade em idade, encontram-se ainda nas atuais religiões.
Daí Satanás, o eterno revoltado, o inimigo eterno do bem, mais poderoso que o próprio Deus, pois que reina como senhor do mundo, e as almas criadas para a felicidade caem, na maior parte, debaixo do seu jugo.
Os homens fizeram com satanás, ou demônio, como queiram, o que fizeram com os anjos. Da mesma forma que acreditaram em seres perfeitos de toda a eternidade, tomaram os Espíritos inferiores, aqueles que ainda se acham estagnados na ignorância sem simplicidade, por seres perpetuamente maus. Portanto, a doutrina Espírita nos convida a ver nos chamados demônios, Espíritos impuros que, freqüentemente, não valem mais que as entidades designadas por tal nome, mas com a diferença de que eles não foram sempre assim, e seu estado é transitório. São Espíritos imperfeitos que murmuram contra as provas que devem suportar, e que, por isso, suportam-nas por mais tempo. Chegarão, porém, por seu turno, a sair desse estado, quando o quiserem. Essa a grande diferença, de um lado a doutrina da igreja, a nos ensinar que os demônios teriam sido criados bons e tornaram-se maus por sua desobediência, ou seja, anjos colocados primitivamente por Deus no ápice da escala, tendo dela decaído. E de outro, a Doutrina Espírita que diz que os demônios são espíritos imperfeitos, suscetíveis de regeneração e que colocados na base da escala, hão de nela graduar-se pela sua própria vontade e esforço.

Notas:
1 - Evolução em Dois Mundos pg. 19
2 - Emmanuel pg. 170
3 - Extraído de O Livro dos Espíritos