segunda-feira, abril 30, 2012

Mediunidade e Evangelho - I Coríntios, 12: 2


Vós bem sabeis que éreis gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados.
Esta carta que Paulo escreveu aos habitantes de Corinto tinha por finalidade chamar a atenção destes para pontos doutrinários que estavam dividindo a comunidade cristã, e também para instruí-los a respeito de problemas morais e de conduta social.
Gentio é o nome com que era designado todas as nações afora a nação judaica. Os Coríntios eram considerados gentios, pois habitantes da Grécia cultuavam ídolos do paganismo.
Paulo fundara ali uma igreja por volta do ano 52 E. C.; estes, seguidores da doutrina do Cristo, não eram considerados mais por ele como gentios, pois a partir de então eram cristãos.
Neste versículo do capítulo 12 o apóstolo lembra que eles já tinham sido gentios, cultores de vários ídolos, e ídolos mudos, a quem prestavam devoção e eram guiados. Porém, agora a história era outra, a partir do conhecimento do Evangelho deveriam mudar o ângulo de visão, primando todos por uma moral mais elevada e menos escravizante.
Nos dias de hoje, nós espíritas, passamos pelas mesmas dificuldades. Já fomos cultores de vários ídolos e religiões, cuidamos mais da forma do que do conteúdo, das atitudes de aparência do que das que efetivamente nos transformam em seres melhores.
Temos de trabalhar pela verdadeira conversão moral de nós mesmos, todavia sem desprezar aqueles que estagiam em degraus outros da evolução, pois em verdade, povo escolhido são todos os filhos de Deus em quem a Lei do Eterno opera tornando-os perfeitos e libertos.
Trazemos tendências sim de todos os estados por que passamos, mas temos no “gabinete da vontade” a mola indutora de transformação para dias melhores e mais espiritualizados.
Já fomos isto e aquilo, já fomos muito mais do que tudo isso, porém hoje somos espíritas, e temos, conforme orientação do Codificador o dever de realizarmos todos os esforços em favor de uma transformação moral concreta e objetiva.

segunda-feira, abril 23, 2012

Mediunidade e Evangelho - 1 Coríntios, cap 12




Nas próximas semanas nos propomos a fazer um estudo do 12 ºcapítulo da  Carta aos Coríntios, e assim tecermos comentários sobre Mediunidade e Evangelho estudando versículo por versículo esta carta até o verso 18.


1 Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. 2 Vós bem sabeis que éreis gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados. 3 Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema! E ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo. 4 Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. 5 E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. 6 E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. 7 Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil. 8 Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; 9 e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; 10 e a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o dom de discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas. 11 Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer. 12 Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também. 13 Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito. 14 Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. 15 Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; não será por isso do corpo? 16 E, se a orelha disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; não será por isso do corpo? 17 Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? 18 Mas, agora, Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis.
Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes.
Dons espirituais é o mesmo que dons do Espírito, isto é, qualidade natural deste.
O apóstolo dos gentios foi sem dúvida o maior divulgador das verdades contidas na Boa Nova deixada por Jesus, sendo que historiadores modernos afirmam que sem ele não haveria cristianismo.
Por ser sabedor da necessidade de todos os discípulos do Senhor, de todas as eras, deixar de lado a ignorância, ele assim inicia o décimo segundo capítulo desta importantíssima epístola aos coríntios:
Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes.
A ignorância é um dos sentimentos que mais prejudicam o Espírito em sua caminhada evolucional, poderíamos dizer que ela é, sem dúvida nenhuma, o germe de todas as imperfeições. Se no princípio da evolução ela é natural, como nos afirmam os Espíritos superiores na questão 115 de O Livro dos Espíritos, com o desenvolver das possibilidades da criatura ela se torna entrave ao crescimento de todas possibilidades humanas.
O Espírito foi criado por Deus de Sua própria Substância, o que o fez imortal. Deste modo podemos dizer que Deus deixou Sua marca impressa na criatura, ou que permaneceu nela através da Consciência que situa em sua profundidade. É a Imanência Divina.
Se tivesse plena consciência deste fato o Espírito erraria muito menos realizando sua evolução sem passar pela fieira do mal como nos alertam as Entidades Redatoras da Doutrina Espírita.1
Ela, a ignorância, é a conselheira do orgulho, este algoz que escraviza o Ser nas armadilhas do personalismo, pois o orgulhoso nada mais é do que alguém que julgando-se superior e sábio fecha as portas para o recebimento de novas revelações, o que o libertaria da imperfeições com uma dose maior de conforto e segurança.
Se desejarmos seguir nossa caminhada rumo à perfeição com menores contrariedades e sujeitos a menos dores, estejamos atentos ao que diz o apóstolo:
Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes.
No que diz respeito às possibilidades mediúnicas que todos possuímos a afirmativa do filho de Tarso é também de grande valia. Muitos são os espíritas que adentram as portas das Casas Espíritas já desejando ingressar no serviço mediúnico como se, simplesmente este anseio bastasse para a realização de um bom trabalho em favor dos semelhantes dos dois planos da vida.
Para que possamos ser médiuns dentro da concepção kardequiana é preciso estudo, e muito estudo, além das conquistas morais que distinguem os postulantes ao serviço cristão.
As reuniões de estudo são, além disso, de imensa utilidade para os médiuns de manifestações inteligentes, para aqueles, sobretudo, que seriamente desejam aperfeiçoar-se e que a elas não comparecerem dominados por tola presunção de infalibilidade.2
Assim, o iluminado codificador resume, concordando com Paulo, a nossa necessidade de cada vez mais aprendermos para melhor servirmos distanciados do orgulho, da presunção ou de qualquer sentimento inferior que nos afaste do objetivo pleno de sermos úteis em qualquer tarefa a realizar.
1 O Livro dos Espíritos, questão 120.
2 O Livro dos Médiuns item 329

segunda-feira, abril 16, 2012

Paulo, Perspectiva Espírita - Morrer Uma Só Vez - Bibliografia


Para encerrar este breve estudo não poderíamos deixar de comentar o versículo mais usado pelos cristãos tradicionais para combater a Reencarnação que é um princípio fundamental do Espiritismo a expressar uma Lei Universal.

E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo… (Hebreus, 9: 27)

Este é mais um texto do Evangelho onde a leitura apressada e condicionada pode nos levar ao erro.
Nosso autor aqui em nenhuma hipótese está tratando do tema da possibilidade ou não da reencarnação.
A Carta aos Hebreus é toda escrita para mostrar a superioridade de Jesus-Cristo em relação a Moisés e o quanto o Evangelho, significando a Terra Prometida, é superior à Lei antiga.
Neste ponto o autor de Hebreus está fazendo uma comparação dizendo que pela Lei antiga o Sumo Sacerdote tem de, uma vez por ano, fazer um sacrifício de purificação, enquanto pela Nova Aliança, a do Evangelho, se seguirmos o exemplo do Cristo nos libertaremos de vez da necessidade dos ciclos dos renascimentos como instrumento de purificação. Por meio do Cristo vivenciado temos acesso direto a Deus e a Seu Reino.
A Reencarnação é uma Lei Universal fundamentada na justiça; realmente, se transcendermos a justiça humana pela implementação do Cristo em nós, não teremos mais de reencarnar, pois só reencarnam os Espíritos que ainda não atingiram plenamente a Perfeição Cristã. Todavia enquanto isto não acontece necessário se faz nascer de novo1.
O conceito bíblico de morte nada tem a ver com a cessação da vida física, ou com o desencarne conforme à morte nos referimos.
Como exemplo disto podemos citar Adão que simbolicamente representa a humanidade afastada de Deus pela desobediência às Leis do Criador.
Foi dito a Adão que se comesse da árvore da ciência do bem e do mal ele morreria. Ele desobedeceu e comeu, e o que aconteceu? Fisicamente não morreu, continuou a viver, muitos anos por sinal, e teve até vários filhos.
O próprio Paulo vai expressar este conceito em Romanos ao dizer:

porque o salário do pecado é a morte2

Ou seja, morte significa estar afastado de Deus pelo pecado.
Outros exemplos bíblicos podemos dar.
Jesus ao conversar com um doutor da lei segundo as anotações de Lucas, diz assim:

Respondeste bem; faze isso e viverás.3

Ora se aquele homem estava vivo, por que dizer faze isso e viverás?
Porque não era de vida física que Jesus falava, mas de Vida Eterna, definindo assim o que é vida no conceito das Escrituras.
Em Levítico, 18: 5 temos:

Portanto, os meus estatutos e os meus juízos guardareis; cumprindo-os, o homem viverá por eles. Eu sou o SENHOR.

Em Provérbios, 4: 4:

então, ele me ensinava e me dizia: Retenha o teu coração as minhas palavras; guarda os meus mandamentos e vive.

Muitos outros exemplos podemos dar, mas achamos desnecessário, dizendo apenas que o mesmo Paulo na mesma carta aos Hebreus diz ser o diabo, que simbolicamente representa oposição a Cristo que é Vida, o detentor do império da morte.
Concluindo temos:

Morte = pecado = desobediência às Leis de Deus.

Citamos Paulo novamente para dizer que segundo suas observações, por meio de Adão entrou o pecado no mundo e assim a morte. (Romanos, 5: 12)
Deste modo a morte entrou no mundo através da opção do Espírito por evoluir passando pela fieira do mal.4 Que simbolicamente representa a Queda do Espírito.
Sob este aspecto o Espírito só morreu uma vez, quando adotou o mal como experiência evolutiva afastando-se assim de Deus. A partir daí vem o juízo que é a faculdade de avaliar.
Quando o Espírito morreu (entrou em queda) como proposta divina de recomposição ele entra no ciclo das mortes e dos renascimentos, encarna e desencarna, e após cada etapa vem a avaliação. Assim vai se recompondo até a redenção final que é sua volta à Vida Eterna.
O que Paulo quer dizer é que o Espírito que morreu uma só vez, quando da queda, por meio do Cristo voltará à Vida e não morrerá jamais.
O que ele mesmo confirma em outro texto:

Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo.5
Se você gostou deste texto clique aqui e leia outro sobre o mesmo assunto

Referências Bibliográficas:
A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Ed. Paulinas, 1992.
BibleWorks For Windows, Versão 7.0.012g. BibleWorks, 2006.
Dicionário Bíblico Strong . Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Eletrônico da Língua Portuguesa, versão 1.0. Editora Objetiva, 2001.
KARDEC, Allan. A Gênese, 26ª Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1984.
. O Céu e o Inferno. Rio de Janeiro: FEB, 1944.
. O Livro dos Espíritos. 50ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980.
WRIGHT, N.T., Tradução de Joshuah de Bragança Soares. Paulo Novas Perspectivas. São Paulo: Loyola, 2009.
XAVIER, Francisco C., / Emmanuel (Espírito). A Caminho da Luz, 10ª Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980.
XAVIER, Francisco C./ Emmanuel (Espírito). Paulo e Estevão, 41ª Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004.
XAVIER, Francisco C./ Waldo Vieira/André Luiz (Espírito). Evolução em Dois Mundos, 13a Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1993.



1 Cf. João, 3: 3
2 Romanos, 6: 23
3 Lucas, 10: 28
4 Cf.(KARDEC 1980), Q. 120
5 I Coríntios, 15: 22

segunda-feira, abril 09, 2012

Paulo Perspectiva Espírita - Justificação pela fé


Este é outro tema de grande importância na teologia paulina e que não pode ficar de fora se pretendemos comentar o pensamento de Paulo sob a perspectiva espírita.
Sobre justificação pela fé já foram escritos vários livros, verdadeiros tratados teológicos. O tema é tão importante que Lutero baseia a Reforma Protestante na questão de como se alcança esta justificação.
Não pretendemos fechar questão sobre o assunto e nem achamos que temos condições de debater o assunto com a profundidade necessária, entretanto é preciso realizar alguns comentários dentro de nosso objetivo que é estudar o Evangelho à luz da Doutrina Espírita mantendo sempre o enfoque reeducativo.
A primeira vez que Paulo trata o assunto é na Carta aos Gálatas sendo que em Romanos ele irá aprofundar a questão.
Vamos tomar por base a citação de Gálatas:
Sabendo, entretanto, que o homem não se justifica pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, nós também cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo e não pelas obras da Lei, porque pelas obras da Lei ninguém será justificado. (Gálatas, 3: 16)
Como temos feito até então, e para manter a simplicidade de nosso estudo faz-se necessário conceituar o que seja justificação, obras da Lei, e fé.
Justificação deve ser compreendida no contexto judaico como o ato de ser feito ou considerado justo. Quem irá justificar o homem é Deus. (Romanos, 3: 30).
Compreender isto é fundamental, pois ser considerado justo é estar em comunhão com Deus, é manter a Aliança com o Criador. Deus é Santo, sem pecados, desta forma para estar em comunhão com Ele é preciso estar no estado de santidade, sem afastar-se de Sua Lei.
E como se consegue isto? Pelas obras? Não, Paulo é claro: pela fé em Cristo-Jesus.
Neste passo é importante conceituar nossa segunda expressão: obras da Lei.
Lei é a tradução da palavra grega nomos que é usada também para traduzir Torah. Todavia aqui obras da Lei não significa as obras da Torah em seu sentido espiritual de ensinamento que transforma. Seriam as obras do legalismo judaico, da observação dos preceitos puramente religiosos, como a circuncisão, a observação do sábado, da abstinência de carne suína, dos rituais de purificação, etc.
Nos dias de hoje seria observar mais os preceitos que todas religiões têm do que a observância da transformação moral, ou de autoiluminação, por exemplo.
Sendo assim Paulo combate todo tipo de discriminação ou exclusão em favor de uma manutenção do estado de harmonia entre criatura e Criador.
Essencial desta forma compreender o significado bíblico de seja no Novo Testamento ou no Antigo onde fé é emunah.
Tanto o grego pistis, quanto o hebraico emunah expressam fidelidade, confiança. Não se trata de uma crença meramente intelectual, mas de um estado de obediência, de comprometimento. Trata-se de uma fé operacional.
Todo o enfraquecimento de compreensão do que seja fé em nosso vocabulário se deu pelo motivo de que não existe em português um verbo que expresse o ato de ter fé em seu sentido bíblico. Em português o verbo encontrado que mais se aproximou foi “crer”, entretanto, este verbo não expressa a totalidade do que é ter fé. Crer é apenas um componente do ato de ter fé, e talvez um dos menores.
Outro ponto que tem sido destacado pelos eruditos modernos e que têm ampla lógica e concordância com o Espiritismo que tem Jesus não por ídolo ou mito, mas como Modelo, é que Paulo talvez pensasse ao dizer fé em Cristo-Jesus, não só o ato de ser fiel a Jesus, mas à atitude de ter a fidelidade de Cristo. Assim, não seria simplesmente ter fé em Cristo-Jesus, mas ter a fé de Cristo-Jesus, a mesma que O levou a ser plenamente fiel ao Pai e aos Seus desígnios.
Foi por esta fidelidade que Ele, Jesus, o Autor e Consumador da fé, trocou a alegria que lhe estava proposta pela cruz da ignomínia1 e assim ensinar que o caminho da justificação passa pelo testemunho de sacrificar-se em favor da evangelização dos outros como forma de glorificar ao Pai e assim estar presente Nele sendo declarado Justo.

1 Cf. Hebreus, 12: 2

quarta-feira, abril 04, 2012

Ressurreição e Reencarnação

"E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação." (João, 5: 29)
"Porque o que semeia na sua carne da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito do Espírito ceifará a vida eterna."(Gálatas, 6: 8)


Ao iniciarmos o estudo destes versículos faz-se preciso como introdução fazermos algumas considerações.
Conforme nos informa Kardec a reencarnação fazia parte dos dogmas dos judeus, sob o nome de ressurreição1. Porém, como ele próprio coloca, as idéias dos judeus sobre esse ponto, como sobre muitos outros, não eram claramente definidas, porque apenas tinham vagas e incompletas noções acerca da alma e da sua ligação com o corpo.2
Isso acontecia não só com os judeus, mas também com outros povos que criam na proposta palingenésica.
Só com o advento da Doutrina Espírita a idéia da reencarnação ganhou um estudo mais completo e que pôde elucidar alguns pontos até então obscuros. Não foi Kardec quem inventou nem quem descobriu a reencarnação, ela existe desde o princípio dos tempos, porém, ele com lógica e bom senso, e assessorado pelos Espíritos superiores, deu uma fundamentação científica ao assunto.
Outro ponto que precisa ser considerado é que nem todos os judeus criam na teoria das vidas sucessivas. O judaísmo ao tempo de Jesus não era uma religião sem rupturas, um bloco concreto e unificado, no judaísmo do I século de nossa era havia muitos subgrupos entre os judeus cada qual com suas características próprias.
Os fariseus tinham uma idéia sobre a reencarnação; é ela também fundamental para a crença da corrente hassídica.3
Todavia, quando Jesus se referia à ressurreição não era de reencarnação que ele estava dizendo.

…mas os que forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro e a ressurreição dos mortos nem hão de casar, nem ser dados em casamento; porque já não podem mais morrer, pois são iguais aos anjos e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição.4
Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá.5

Analisemos o texto proposto:

“E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação.” (João, 5: 29)

E os que… - Define que todos que procederem da forma indicada terão como consequência colheita de acordo com a semeadura. É a Lei de Causa e Efeito.
Depois há uma relação:

Fazer o bem - ressurreição da vida
Fazer o mal - ressurreição da condenação

"Sair para ressurreição da vida é dinamizar a capacidade nossa de, na medida em que nos entrosarmos num processo de maior ajuste às Leis que nos governam, sairmos da necessidade de ressurgir no plano reencarnatório nas linhas das provas e expiações. É quando entramos numa linha de cooperação com as forças superiores da vida dentro de uma linha missionária. Perdemos peso de inferioridade e ganhamos em espiritualidade." (Honório Abreu)
O que isto significa?
É quando vencemos aquele último inimigo citado por Paulo, a morte [do pecado], e aí entramos na vida eterna.
A expressão vida eterna no Evangelho não fala de nossa vida biológica que temos e não vemos perder mais, mas de uma vida de qualidade, qualidade esta obtida através da aplicabilidade do Evangelho. É a vida abundante; nesse momento cessa o ciclo reencarnatório.
É aí que entra o segundo versículo proposto para o estudo:

…mas o que semeia no Espírito do Espírito ceifará a vida eterna. (Gálatas, 6: 8)

Portanto, ressurreição da vida, conforme esta análise é não mais precisar reencarnar é adquirir qualidade para entrar no mundo vindouro:

…mas os que forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro e a ressurreição dos mortos nem hão de casar, nem ser dados em casamento; porque já não podem mais morrer…6

Ressurreição da condenação, dentro deste contexto, é justamente viver sob o impacto da Lei em seu aspecto justiça. Aí é que entra a reencarnação.
Não que reencarnar seja uma condenação como pensaram os gnósticos. Reencarnar é uma benção divina, porém não deixa de ter seu lado condenatório, pois aquele que reencarna dentro do processo natural da evolução está imerso no ambiente das provas e das expiações.

Porque o que semeia na sua carne da carne ceifará a corrupção…

Dentre os conceitos de corrupção está o ato, processo ou efeito de corromper. Deterioração, decomposição física, orgânica de algo; putrefação.7
Não é a isso que estamos sujeitos no plano em que vivemos? Morte sob vários aspectos?
Desejamos sair deste plano de acontecimentos de sucessivas perdas e ganhos, de vida e morte?
Adotemos então a proposta do Evangelho.
Jesus veio justamente instaurar em nós a era do Espírito, tudo que aconteceu anteriormente era relativo ao homem-biológico…

…eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância.8

Queridos amigos, esta é apenas uma interpretação do texto, muitas outras, e até melhores do que esta, certamente haverá.

…sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação.9

Primeiro estudo proposto

O tema da ressurreição era um tema polêmico no tempo de Jesus.
Os fariseus tinham-na como certa, os saduceus não a aceitavam.
Conforme colocação de Kardec:

A reencarnação fazia parte dos dogmas dos judeus, sob o nome de ressurreição. Só os saduceus, cuja crença era a de que tudo acaba com a morte, não acreditavam nisso. As idéias dos judeus sobre esse ponto, como sobre muitos outros, não eram claramente definidas, porque apenas tinham vagas e incompletas noções acerca da alma e da sua ligação com o corpo. Criam eles que um homem que vivera podia reviver, sem saberem precisamente de que maneira o fato poderia dar-se. Designavam pelo termo ressurreição o que o Espiritismo, mais judiciosamente, chama reencarnação. Com efeito, a ressurreição dá idéia de voltar à vida o corpo que já está morto, o que a Ciência demonstra ser materialmente impossível, sobretudo quando os elementos desse corpo já se acham desde muito tempo dispersos e absorvidos. (Evangelho Segundo o. Espiritismo, cap. 4 item 4)

Josefo, em Guerra dos Judeus, II.8.14 conforme citação de Champlin, nos diz que:

"Os fariseus criam na imortalidade da alma, que haveria de reencarnar-se. Isso poderia envolver uma série de reencarnações (doutrina essa muito comum naquela época, que evidentemente também era defendida pelos essênios.), mas também incluía a idéia de que a alma haveria de animar o corpo ressurrecto. Criam fortemente na sorte ou determinismo, no universo, bem como na existência dos espíritos. (O Novo Testamento, Interpretado Versículo a Versículo. Nota a Marcos, 3: 6)

Se os fariseus mantinham um ponto de vista que cria na ressurreição literal, os saduceus rejeitavam essa idéia, juntamente com outras doutrinas que envolvem o sobrenatural, como a existência e a sobrevivência da alma e a existência dos espíritos. (Ib. Nota a Mateus, 22: 23)

Diante este contexto, e aplicando ao Evangelho os ensinamentos da doutrina espírita, como podemos compreender os versículos evangélicos abaixo?

E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação. (João, 5: 29)

Porque o que semeia na sua carne da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito do Espírito ceifará a vida eterna. (Gálatas, 6: 8)
1 Evangelho Segundo o. Espiritismo, cap. 4 item 4
2 Idem
3 Cf. SEVERINO, Celestino. Analisando as Traduções Bíblicas, 2ª Ed. Pág. 145.
4 Lucas, 20: 35 e 36.
5 João, 11: 25
6 Lucas, 20: 35 e 36
7 Dicionário Houaiss
8 João, 10: 10
9 2 Pedro, 1: 20

segunda-feira, abril 02, 2012

Paulo Perspectiva Espírita - Jesus é o Criador?


porque por ele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis… (Colossenses, 1: 16)
Este versículo é outro desafio de solução complexa. Nós o comentamos mais detalhadamente em nosso livro Cartas da Prisão, aqui fazemos apenas um breve resumo do que dissemos lá.
Temos nele Jesus como criador de todas as coisas, o que é atributo de Deus. Já dissemos anteriormente, só Deus é Criador no sentido de transformar a essência em existência. Os Espíritos não criam, eles fazem, ou cocriam a partir de uma substância já criada por Deus.
O sentido do verbo grego aqui usado ktizo é tornar habitável; povoar, um lugar, região, ilha; fundar uma cidade, colônia, estado. Significando também “criar” porém no sentido de formar, modelar, i.e., mudar ou transformar completamente.
É o que dissemos, criar algo a partir de algo já existente.
Voltamos àquele tema de Deus ter Espíritos que exercendo ação sobre a matéria constroem os mundos.
os Espíritos são uma das potências da natureza e os instrumentos de que Deus se serve para execução de seus desígnios providenciais.1
O Espírito André Luiz através da psicografia de Francisco Cândido Xavier complementa dizendo:
[na] substância original, ao influxo do próprio Senhor Supremo, operam as Inteligências Divinas a Ele agregadas, em processo de comunhão indescritível, os grandes Devas da teologia hindu ou os Arcanjos da interpretação de variados templos religiosos, extraindo desse hálito espiritual os celeiros da energia com que constroem os sistemas da Imensidade, em serviço de Cocriação em plano maior, de conformidade com os desígnios do Todo-Misericordioso, que faz deles agentes orientadores da Criação Excelsa.
Essas Inteligências Gloriosas tomam o plasma divino e convertem-no em habitações cósmicas, de múltiplas expressões, radiantes ou obscuras, gaseificadas ou sólidas, obedecendo a leis predeterminadas, quais moradias que perduram por milênios e milênios, mas que se desgastam e se transformam, por fim, de vez que o Espírito Criado pode formar ou cocriar, mas só Deus é o Criador de Toda a Eternidade.2
Jesus é assim, um destes Espíritos – agentes dedicados de Deus - que se capacitaram a ser Cocriadores em plano maior; segundo orientação de Emmanuel pertence à Comunidade de Espíritos Puros, é responsável pelo governo de coletividades planetárias3.
Portanto, neste sentido é que Ele fez todas as coisas neste nosso planeta Terra. Paulo não tinha àquele tempo a ideia de Universo como temos hoje, por isso ele usa a expressão todas as coisas se referindo ao nosso orbe. Era o máximo que a mentalidade da época alcançava.
Então Jesus é sim, segundo orientação dos Espíritos, “criador” do nosso planeta; por ele, isto é, por meio dele, foram criadas todas as coisas.
1 (KARDEC 1980), Q. 87
2 (XAVIER F. C. / Waldo Vieira / A. Luiz (Espírito), 1993)Cap. 1, 1ª Parte
3 XAVIER, Francisco C., / Emmanuel (Espírito). A Caminho da Luz, 10ª Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980., Cap. 1