quarta-feira, abril 21, 2010

Imortalidade da Alma e Vida Futura

Imortalidade da Alma

A imortalidade da alma é uma realidade incontestável. O homem, inclusive o materialista, tem e sempre teve dela, a intuição.
É que tendo sido ele criado por Deus, ou tendo Dele saído, já contém em si mesmo o germe da vida futura. Podemos, então, afirmar com segurança que o Espírito não é eterno, porque teve início, mas é imortal, porque nunca terá fim.
A morte no sentido de acabar, não existe em nenhum lugar do Universo. É que Deus, o Criador de tudo o que existe, não poderia criar nada que um dia acabasse. A morte, portanto, deve ser sempre entendida como uma passagem, como fim de um ciclo e início de outro.
Por que então tem o homem tanto medo da morte?
Podemos analisar o medo da morte sob dois aspectos: um positivo, o outro negativo.
O primeiro é um efeito da sabedoria da Providência. Ele se manifesta como uma conseqüência da lei de conservação. Deus deu a todos os seres vivos a necessidade de viver como forma de evolução, e desta maneira, busca o Ser sempre preservar a vida. Se não houvesse esse instinto, o Espírito deixaria entregar-se à morte sem ter terminado de cumprir a fase que se faz necessária no momento.
Quanto ao segundo, temos a determiná-lo várias causas, as quais podemos destacar a má formação religiosa, o apego aos bens materiais, a culpa de consciência, etc.
Dizemos medo negativo, por ser ele muitas vezes desencadeador de processos obsessivos e outras vezes gerador de temor à própria vida, entre outras formas de manifestação.
É dever da religião informar aos seus adeptos a respeito da vida espiritual. Quando esta informação não se faz, a religião não cumpre um de seus mais importantes objetivos. Como na maioria da vezes fomos formados por uma religião que nunca nos esclareceu de uma forma lógica a respeito da vida futura, e muito pelo contrário procurou sempre nos amedrontar, temos gravado em nosso psiquismo o medo da morte.
Esta falta de lógica e a perseverança em doutrinas complicadas, desprovidas de bom senso e sem fundamentação científica, promoveram um homem céptico, materialista, que valoriza em excesso os bens imediatos, por não crer em nada além de sua acanhada visão. Essa forma de pensar também leva o indivíduo a ter medo do momento da transição, porque não crendo ele em nada, logo pensa, o que será a partir de então? Por isso, afirmamos ser a má formação religiosa uma das grandes culpadas do medo da morte.
Outra causa a destacar é a culpa e os sofrimentos já passados anteriormente pelo Espírito.
Sabemos que antes de encarnarmos, fazemos um programa regenerativo com base em nossas maiores necessidades, todavia, ao reencarnarmos, esquecemos grande parte destes compromissos e reincidimos nos antigos erros. Conscientemente, disso nada sabemos, mas o nosso Espírito guarda todas essas informações em seu íntimo, e esse contrariar nossa consciência é fator determinante do temor da morte, que ainda é agravado pelo fato de isso já ter acontecido muitas vezes em nosso processo reencarnatório e ter gerado muito sofrimento pós-morte, nos deixando uma reminiscência nada agradável.
A Doutrina Espírita transforma por completo esta situação. A vida futura deixa de ser hipótese para ser realidade. E a sua moral por ser a mesma ensinada pelo Cristo, tira do ser a culpa, mostrando a ele a necessidade de transformar-se pela prática das lições evangélicas, tirando, assim, o homem do círculo vicioso do erro.
Foi o próprio Jesus quem disse: “Nem eu te condeno; vai-te, e não peques mais.”[1]
Pela importância deste tema, e para que todo espírita possa encarar a grande transição com tranqüilidade e segurança, estudaremos no próximo tópico o processo desencarnatório.
Processo Desencarnatório
O desencarne sempre traz, com raríssimas exceções, alguma perturbação para o Espírito envolvido neste processo.
Os que pautaram sua conduta pelos princípios de renovação espiritual em bases evangélicas sofrem menos esta perturbação. Já os que viveram uma vida materialista baseado no imediatismo mundano, mais forte é o desequilíbrio, visto que as impressões da vida corporal transferem-se para o plano da consciência desencarnada.
O fato a que denominamos morte, só se dá quando do rompimento do cordão fluídico que une a alma ao corpo, mas essa separação não acontece de uma forma brusca.
“O fluido perispiritual só pouco a pouco se desprende de todos os órgãos, de sorte que a separação só é completa e absoluta quando não mais reste um átomo do perispírito ligado a uma molécula do corpo.”[2]
Quando estudava o processo desencarnatório de Dimas no livro “Obreiros da Vida Eterna”, André Luiz, em determinado ponto, faz a seguinte consideração:
“Para os nossos amigos encarnados, Dimas morrera, inteiramente. Para nós outros, porém a operação era ainda incompleta. E continua: O assistente deliberou que o cordão fluídico deveria permanecer até ao dia imediato, considerando as necessidades do “morto”, ainda imperfeitamente preparado para o desenlace mais rápido.”[3]
Aprendemos, desta forma, que o desencarne não termina no instante em que o ser é dado como morto pela ciência médica, mas que ele só se completa algumas horas depois com o desligamento do cordão fluídico.
Podemos afirmar que não existem dois processos de desencarne rigorosamente iguais, visto que não existem dois Espíritos em total identidade. A sensação de maior ou menor sofrimento enfrentada pelo Espírito, está na razão direta da soma de pontos de contato existentes entre o corpo e o perispírito, nos afirma Kardec, e esta é a mesma razão da maior ou menor dificuldade que apresenta o rompimento do cordão de prata.
Assim, temos que o sofrimento gerado pela “morte” é tanto maior quanto maior for a aderência corpo-perispírito, que é sempre determinada pela maior ou menor importância dada pelo homem, enquanto encarnado, às questões materiais. A afinidade entre o corpo e o perispírito é proporcional ao apego à matéria.
Isto vem confirmar que o sofrimento das almas moralizadas, é quase nulo, porque nulo é o seu apego às questões materiais. Posto isto, afirmamos que só depende de nós mesmos o nosso sofrer ou não sofrer no instante da grande transição.
Outra questão a considerar, é o tipo de desencarne que sofre o Espírito.
Quando trata-se de morte natural, gerada pela cessação das forças vitais por velhice ou doença, o processo é menos agressivo, e o Espírito penetra a vida espiritual de forma mais tranqüila, se mais espiritualizada foi a sua vida, conforme já dissemos. Mas mesmo no homem mais materializado, apesar das dificuldades geradas pelo apego, a morte mais lenta, mais natural é menos sofrida.
Na morte violenta, as sensações se diferem ao extremo. O Espírito, diante do inesperado, fica como que perturbado, e não entendendo o que se passa, acha que está ainda no mundo dos encarnados, e muitas vezes julga que o seu corpo fluídico é o mesmo corpo material, tendo as mesmas sensações.
É claro que aqui também difere em infinitas modalidades o que sente o Espírito, devido aos seus conhecimentos a respeito da vida espiritual e os progressos feitos em sua existência material. Para quem vivenciou mais na vida os valores do Espírito, a perturbação passa mais rapidamente, aos outros é mais lenta, podendo durar dias, meses, anos ou até séculos.
No caso do suicida então, mais penosa ainda é a transição. Os Espíritos chegam a afirmar que o sofrimento excede a qualquer expectativa. Como se já não bastasse a grave transgressão às Leis Divinas, o corpo está totalmente ligado ao perispírito, e a quantidade de fluido vital é ainda grande. Isto muitas vezes faz com que o Espírito assista, totalmente consciente, todo o processo desencarnatório, sentindo a decomposição de seu organismo molécula a molécula, e a maior surpresa que o espera é a grande decepção de ainda estar vivo.
Resumindo, temos então que o sofrimento do Espírito, na ocasião do desencarne, é sempre maior quanto mais lento for o desprendimento do perispírito. E essa lentidão é sempre maior quanto menor for a evolução moral do indivíduo.
Até então, analisamos o processo desencarnatório, vendo só a influência do Espírito do próprio desencarnante, mas a influência de familiares e amigos também é fator determinante no processo de desligamento do Espírito.
André Luiz, em livro psicografado por Chico Xavier, estuda a desencarnação de Fernando, e em determinado momento, nota que o estado aflitivo dos familiares prejudicam o ato desencarnatório. Veja como é narrado o fato:
“A aflição dos familiares encarnados, aqui presentes (dizia Aniceto), poderá dificultar-nos a ação. Observem como todos eles emitem recursos magnéticos em benefício do moribundo.
De fato, uma rede de fios cinzentos e fracamente iluminados parecia ligar os parentes ao enfermo quase morto.
-Tais socorros – tornou Aniceto – são agora inúteis para devolver-lhe o equilíbrio orgânico. Precisamos neutralizar essas forças, emitidas pela inquietação, proporcionando, antes de tudo, a possível serenidade à família.
E, aproximando-se ainda mais do agonizante, tomou a atitude do magnetizador, exclamando:
- Modifiquemos o quadro do coma.
Após alguns minutos em que nosso mentor operava, secundado pelo nosso respeitoso silêncio, ouvimos o médico encarnado anunciar aos parentes do moribundo:
- Melhoram os prognósticos. A pulsação, inexplicavelmente, está quase normal. A respiração tende a acalmar-se.
Três senhoras suspiraram aliviadas. (…)
As senhoras e mais dois cavalheiros, que se prontificavam a retirar agradeceram satisfeitos e comovidos. Permaneceram no aposento somente o médico e um irmão do agonizante. A melhora súbita tranqüilizara a todos. E, aos poucos, os fios cinzentos que se ligavam ao enfermo desapareceram sem deixar vestígios. (…)
Aproveitou Aniceto a serenidade ambiente e começou retirar o corpo espiritual de Fernando, desligando-o dos despojos, reparando eu que iniciara a operação pelos calcanhares, terminando na cabeça, à qual, por fim, parecia estar preso o moribundo por extenso cordão, tal como se dá com os nascituros terrenos. Aniceto cortou-o com esforço. O corpo de Fernando deu um estremeção, chamando o médico humano ao novo quadro. A operação não fora curta e fácil. Demora-se longos minutos, durante os quais vi o nosso instrutor empregar todo o cabedal de sua atenção e talvez de suas energias magnéticas.” [4]
Como já dissemos, não existe processo desencarnatório igual. A nossa intenção com este estudo é dar uma idéia geral do assunto. Aconselhamos aos interessados em aprofundar os conhecimentos sobre este tema o livro O Céu o e Inferno de Allan Kardec, e Obreiros da Vida Eterna do Espírito André Luiz, psicografado por Chico Xavier.
Preparação do Espírito Para o Desencarne
Os Espíritos têm afirmado a todo instante que a maior dificuldade encontrada pelo desencarnante no outro plano da vida, e a maior dificuldade encontrada pelos guias encarregados de auxiliar neste processo, é a falta de preparo do recém liberto.
E é fácil de entender o porquê. Imagine se qualquer um de nós fôssemos travar conversação com um elemento que desconhecesse o nosso idioma, e nós desconhecêssemos o dele. Já pensaram que dificuldade? E olha que, quanto ao desencarne, a situação é bem mais complexa.
Voltando às comparações, notamos que é comum a qualquer um de nós, quando da realização de uma viagem a um país estranho, realizarmos determinada programação. Que língua é falada neste país? Como vou fazer para me comunicar com seus habitantes? Qual a temperatura que está por lá? Será que a minha vestimenta está adequada? Qual a moeda que tem valor nesta região? Como realizar o câmbio?
Estas e outras questões são levantadas por nós, antes de empreendermos viagem.
E quanto ao desencarne, viagem que todos nós sabemos que mais cedo ou mais tarde vamos realizar, temos nos preparado adequadamente? Como fazer?
O Espírito Irmão X, no livro Cartas e Crônicas, traz valiosas anotações a respeito deste tema. Por isto, achamos  melhor transcrever sua narrativa.
Segundo ele, devemos modificar em primeiro lugar, nossos antigos maus hábitos.
Comece a renovação de seus costumes pelo prato de cada dia. Diminua gradativamente a volúpia de comer a carne dos animais. O cemitério na barriga é um tormento, depois da grande transição. O lombo de porco ou bife de vitela, temperados com sal e pimenta, não nos situam muito longe dos nossos antepassados, os tamoios e os caiapós, que se devoravam uns aos outros.
Os excitantes largamente ingeridos constituem outra perigosa obsessão. Tenho visto muitas almas de origem aparentemente primorosa, dispostas a trocar o próprio Céu pelo uísque aristocrático ou pela nossa cachaça brasileira.
Tanto quanto lhe seja possível, evite os abusos do fumo. Infunde pena a angústia dos desencarnados amantes da nicotina.
Não se renda à tentação dos narcóticos. Por mais aflitivas lhe pareçam as crises do estágio no corpo, agüente firme os golpes da luta. As vítimas da cocaína, da morfina e dos barbitúricos demoram-se largo tempo na cela escura da sede e da inércia.
E o sexo? Guarde muito cuidado na preservação do seu equilíbrio emotivo. Temos aqui muita gente boa carregando consigo inferno rotulado de “amor”.
Se você possui algum dinheiro ou detém alguma posse terrestre, não adie doações, caso esteja realmente inclinado a fazê-las. Grandes homens, que admirávamos no mundo pela habilidade e poder com que concretizavam importantes negócios, aparecem, junto de nós, em muitas ocasiões, à maneira de crianças desesperadas por não mais conseguirem manobrar os talões de cheque.
Em família, observe  cautela com os testamentos. As doenças fulminatórias chegam de assalto, e, se a sua papelada não estiver em ordem, você padecerá muitas humilhações, através de tribunais e cartórios.
Sobretudo, não se apegue demasiado aos laços consangüíneos. Ame a sua esposa, seus filhos e seus parentes com moderação, na certeza de que, um dia, você estará ausente deles e de que, por isso mesmo, agirão quase sempre em desacordo com a sua vontade, embora lhe respeitem a memória. Não se esqueça de que, no estado presente da educação terrestre, se alguns afeiçoados lhe registrarem a presença extraterrena, depois dos funerais, na certa intimá-lo-ão a descer aos infernos, receando-lhe a volta inoportuna.
Se você já possui o tesouro de uma fé religiosa, viva de acordo com os preceitos que abraça. É horrível a responsabilidade moral de quem já conhece o caminho, sem equilibrar-se dentro dele.
Faça o bem que puder, sem a preocupação de satisfazer a todos. Convença-se de que se você não experimenta simpatia por determinadas criaturas, há muita gente que suporta você com muito esforço.
Por essa razão, em qualquer circunstância, conserve o seu nobre sorriso.
Trabalhe sempre, trabalhe sem cessar.
O serviço é o melhor dissolvente de nossas mágoas.
Ajude-se através do leal cumprimento de seus deveres.
Quanto ao mais, não se canse nem indague em excesso, porque, com mais tempo ou menos tempo, a morte lhe oferecerá o seu cartão de visita, impondo-lhe ao conhecimento tudo aquilo que, por agora, não lhe posso dizer.”[5]
As Penas Futuras Segundo o Espiritismo
A questão das penas futuras, sempre foi motivo de muitas dissensões entre os religiosos e aqueles que não possuem fé alguma. E se analisarmos com tranquilidade, em muitas vezes, temos de dar razão aos não religiosos, devido à falta de lógica da teoria professada pelos ditos cristãos.
Também sobre este assunto, a Codificação Espírita trouxe muito esclarecimento. Transcrevemos abaixo, parte do texto escrito por Kardec em sua importante obra O Céu e o Inferno.
“A doutrina Espírita, no que respeita às penas futuras, não se baseia numa teoria preconcebida; não é um sistema substituindo outro sistema (…). Ninguém jamais imaginou que as almas, depois da morte, se encontrariam em tais ou quais condições; são elas, essas mesmas almas, partidas da Terra, que nos vêm hoje iniciar nos mistérios da vida futura, descrever-nos sua situação feliz ou desgraçada, as impressões, a transformação pela morte do corpo, completando, em uma palavra, os ensinamentos do Cristo sobre este ponto (…).
O Espiritismo não vem, pois, com sua autoridade privada, formular um código de fantasia; a sua lei no que respeita ao futuro da alma, deduzida das observações do fato, pode resumir-se nos seguintes pontos:
1.              A alma ou Espírito sofre na vida espiritual as conseqüências de todas as imperfeições que não conseguiu corrigir na vida corporal. O seu estado, feliz ou desgraçado, é inerente ao seu grau de pureza ou impureza.
2.              A completa felicidade prende-se à perfeição, isto é, à purificação completa do Espírito. Toda imperfeição é, por sua vez, causa de sofrimento e de privação de gozo, do mesmo modo que toda a perfeição adquirida é fonte de gozo e atenuante de sofrimentos.
3.              Não há  uma única imperfeição da alma que não importe funestas e inevitáveis  conseqüências, como não há uma só qualidade boa que não seja fonte de gozo (…).
4.              Dependendo o sofrimento da imperfeição, como o gozo da perfeição, a alma traz consigo o próprio castigo ou prêmio, onde quer que se encontre, sem a necessidade de lugar circunscrito. O inferno  está em  toda  parte  em que haja almas  sofredoras,  e o céu igualmente  onde houver almas felizes.
5.              Sendo infinita a justiça de Deus, o bem e o mal são rigorosamente considerados, não havendo uma só ação, um só pensamento mau que não tenha conseqüências fatais, como não há uma única ação meritória, um só bom movimento da alma que se perca (…).
6.              Toda falta cometida, todo mal realizado é uma dívida contraída que deverá ser paga; se o não for em uma existência, sê-lo-á na seguinte ou seguintes, porque todas as existências são solidárias entre si. Aquele que se quita numa existência não terá necessidade de pagar segunda vez (…).
7.              Não há regra absoluta nem uniforme quanto à natureza e duração do castigo: - a única lei geral é que toda falta terá punição e terá recompensa todo ato meritório, segundo seu valor.
8.              A duração do castigo depende da melhoria do Espírito culpado. Nenhuma condenação por tempo determinado lhe é prescrita (…).
9.              Dependendo da melhoria do Espírito a duração do castigo, o culpado que jamais melhorasse sofreria sempre, e, para ele, a pena seria eterna (…).
10. O arrependimento conquanto seja o primeiro passo para a regeneração, não basta por si só; são precisas a expiação e a reparação. Arrependimento, expiação, e reparação, constituem as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas conseqüências (…). A necessidade da reparação é um princípio de rigorosa justiça, que se pode considerar verdadeira lei de reabilitação moral dos Espíritos.
11. Os Espíritos imperfeitos são excluídos dos mundos felizes, cuja harmonia perturbariam (…).
12. Como o Espírito tem sempre o livre-arbítrio, o progresso por vezes se lhe torna lento, e tenaz a sua obstinação no mal. Nesse estado pode persistir anos e séculos (…).
13. Quaisquer que sejam a inferioridade e perversidade dos Espíritos, Deus jamais os abandona. Todos têm seu anjo de guarda (…). A influência do anjo de guarda, contudo, faz-se quase sempre ocultamente e de modo a não haver pressão, pois que o Espírito deve progredir por impulso da própria vontade, nunca por qualquer sujeição (…).
14. Conquanto infinita a diversidade de punições, algumas há inerentes à inferioridade dos Espíritos (…). A punição mais imediata, sobretudo entre os que se acham ligados à vida material em detrimento do progresso espiritual, faz-se sentir pela lentidão do desprendimento da alma; nas angústias que acompanham a morte e o despertar na outra vida, na conseqüente perturbação que pode dilatar-se por meses e anos (…).
15. Um fenômeno mui freqüente entre os Espíritos de certa inferioridade moral, é o acreditarem-se ainda vivos (…).
16. Para o criminoso, a presença incessante das vítimas e das conseqüências do crime é um suplício cruel.
17. Espíritos há mergulhados em densa treva; outros se encontram em absoluto insulamento no Espaço, atormentados pela ignorância da própria posição, como da sorte que os aguarda (…). Alguns são privados de ver os seres queridos e todos, geralmente, passam com intensidade relativa pelos males, pelas dores e privações que a outrem ocasionaram (…).
18. O hipócrita vê desvendados, penetrados e lidos por todo o mundo os seus mais secretos pensamentos (…). O egoísta, desamparado de todos, sofre as conseqüências da sua atitude terrena; nem amigas mãos se lhe estenderão às suas mãos súplices; e pois que em vida só de si cuidara, ninguém dele se compadecerá na morte.
19. O único meio de evitar ou atenuar as conseqüências futuras de uma falta, está no repará-la desfazendo-a no presente (…).
20. A situação do Espírito, no mundo espiritual, não é outra senão a por si mesmo preparada na vida corpórea (…).
21. Certo, a misericórdia de Deus é infinita, mas não é cega. O culpado que ela atinge não fica exonerado, e enquanto não houver satisfeito à justiça, sofre a conseqüência dos seus erros (…).
22. Às penas que o Espírito experimenta na vida espiritual ajuntam-se as da vida corpórea, que são conseqüentes às imperfeições do homem, às suas paixões, ao mau uso das suas faculdades e à expiação de presentes e passadas faltas. É na vida corpórea que o Espírito repara o mal de anteriores existências (…).
23. Todos somos livres no trabalho do próprio progresso, e o que muito, e depressa trabalha, mais cedo recebe a recompensa (…). O bem e o mal são voluntários e facultativos: livre, o homem não é fatalmente impelido para um nem para outro.
24. Em que pese a diversidade de gêneros e graus de sofrimentos dos Espíritos imperfeitos, o código penal da vida futura pode resumir-se nestes três princípios:
1.              O sofrimento é inerente à imperfeição.
2.              Toda imperfeição, assim como toda falta dela promanada, traz consigo o próprio castigo nas conseqüências naturais e inevitáveis: assim, a moléstia pune os excessos e da ociosidade nasce o tédio, sem que haja mister de uma condenação especial para cada falta ou indivíduo.
3.              Podendo todo homem libertar-se das imperfeições por efeito da vontade, pode igualmente anular os males consecutivos e assegurar a futura felicidade.”[6]


[1] João, 8: 11
[2] KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 28a ed., RJ, FEB, 1992, II parte cap. I
[3] XAVIER, Francisco C. /André Luiz (Espírito). Obreiros da Vida Eterna, Rio de Janeiro, FEB, 1971, cap. XIII
[4] XAVIER, Francisco C. /André Luiz (Espírito), Os Mensageiros, 12ª ed., Rio de Janeiro, FEB, 1980, cap. 50
[5] XAVIER; Francisco C. /Irmão X (Espírito), Cartas e Crônicas, 8ª ed., Rio de Janeiro, FEB, 1991, cap. 4
[6] (KARDEC, O Céu e o Inferno. 28a ed. 1992), I Parte cap. VII

sexta-feira, abril 02, 2010

Pluralidade dos Mundos Habitados e Plano Espiritual

Introdução

A Doutrina Espírita dá condição de ampliar em muito o entendimento do ensinamento de Jesus, quando nos disse : Na casa de meu Pai há muitas moradas[1].
É que, de acordo com a diversidade dos estados evolutivos da alma, esta encontra morada física ou espiritual apropriada às suas condições. Portanto, as moradas da casa do Pai, são os diferentes estados em que se encontra o Espírito após o desenlace.
E como a Codificação também informa ser a nossa evolução feita em vários mundos, e que o Universo é a reunião destes infinitos mundos, essas moradas podem ser entendidas também como cada planeta que forma este Universo, que é a Casa do Pai.
É por este prisma que procuramos estudar este tema, mostrando a lógica do pensamento kardequiano.

Diferentes Estados do Espírito Após o Desencarne

Se podemos dizer que há uma preocupação constante em todas as criaturas, esta preocupação é com o futuro da alma após a morte física.
Em todos os tempos, desde que foi desenvolvido no homem a faculdade do raciocínio, esta inquietação quanto ao seu vir a ser, é motivo de muitas dissensões. Segundo algumas religiões, há um lugar para aqueles que fizeram o bem, e outro para os que não o fizeram. Sendo que são eternos estes ambientes, e localizam-se na parte superior e inferior da Terra. Outros de nossos irmãos, entendem que após a morte, a alma fica aguardando o dia do juízo, em que será decidido o seu futuro de acordo com a forma como viveu.
A Doutrina Espírita ensina que no instante do desencarne, a alma volta ao plano espiritual, conservando sua individualidade, e que normalmente não reencarna logo depois de haver se separado do corpo. Esse estado do Espírito é chamado de erraticidade, isto é, estado do Espírito sem corpo físico enquanto aguarda a próxima encarnação.
O ensino dos Espíritos tem mostrado ainda que há no Universo inumeráveis mundos de constituição material ou menos material, e que de acordo com a condição em que se encontra o Espírito, este é recebido.
“As alegrias e as percepções do Espírito não procedem do meio que ele ocupa, mas de suas disposições pessoais e dos progressos realizados (…)”[2]

Isto significa que o “céu” ou o “inferno” acham-se dentro daquele que o possui. É que o Espírito envolvido por seu próprio magnetismo, cria para si um corpo fluídico que irá captar a essência de seu estado psíquico e vibracional.Isto significa que o “céu” ou o “inferno” acham-se dentro daquele que o possui. É que o Espírito envolvido por seu próprio magnetismo, cria para si um corpo fluídico que irá captar a essência de seu estado psíquico e vibracional.
Por isso Jesus afirmou:
Isso irá fazer com que as almas se agrupem de acordo com o grau de maior ou menor pureza que tenham atingido, no mundo espiritual a situação do Espírito está diretamente ligada à sua constituição fluídica, ou aliás, esta é que é definida por aquela.
“Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu (…)” [3]
Assim sendo, não é um tribunal que julga, mas o Espírito que determina, de acordo com a sua situação moral, a recompensa que irá receber quando do seu desencarne. Isto é que faz com que no plano espiritual criem-se verdadeiras sociedades, com funcionamento baseado na condição dos que as formem.
Contrariamente ao que conhecíamos até então, a Codificação Espírita traz que a vida do Espírito evoluído não é ociosa, mas extremamente ativa. O seu transporte é feito tendo por base sua condição mental. Seu corpo é de tal forma rarefeito, que se torna invisível aos Espíritos inferiores. Seus sentidos não são dados por órgãos materiais, mas por todo o seu Ser, sendo suas percepções mais precisas e reais que a dos encarnados ou mesmo dos desencarnados menos evoluídos.
Não têm necessidades alimentares ou de repouso, isto porque a matéria não os influencia.
Os Espíritos mais atrasados, ao contrário, levam consigo suas necessidades, seus vícios e suas preocupações. Não podendo abandonar seus problemas devido à sua materialidade, participam da vida do homem comum intrometendo em seus afazeres, e participando de seus prazeres. Suas paixões, determinando seus desejos, são alimentadas pelo contato com os valores transitórios, e devido à sua incapacidade de gerenciar tais sentimentos, sofrem pesadas torturas que os atrasam ainda mais.
Concluindo, temos então:
A situação do Espírito após o desencarne é definida por ele próprio quando encarnado.
Sua vivência, de acordo com os princípios evangélicos, o liberta.
A valorização das coisas materiais acima de suas necessidades o escraviza.
As coisas se dão desta forma, porque: 
“a alma enquanto encarnada, condiciona-se a fatores orgânicos que, por sua vez, estão sob o império de leis biológicas específicas. Fora do corpo, outras são as leis e, por conseguinte, outros elementos de equilíbrio e funcionamento.
Daí as naturais dificuldades com que, em novo mundo vibratório, bem diverso do nosso, aqui no plano físico, lutamos todos nós ao trocarmos a densidade da matéria (envoltório físico) pela fluidicidade dos planos espirituais.” [4]
Mundo Espiritual

Dentre as muitas revelações trazidas pelo Espiritismo, a existência de um mundo dos Espíritos, merece de nossa parte um maior destaque.
O mundo das inteligências incorpóreas, apesar de interpenetrar-se com o nosso (físico), é um mundo à parte. É vida em outra dimensão, caracterizada por organização e constituição diferente de tudo o que conhecemos por aqui.
Constitui-se na morada ou pousada dos Espíritos, formando colônias ou comunidades de transição, onde se reúnem de forma homogênea baseados em laços de afinidade. Afinidade caracterizada pela elevação moral dos elementos ali vinculados.
Através das informações obtidas via mediúnica, notamos a existência de várias esferas de vida no Mundo Maior, cada uma com sua vibração característica, formando assim mundos diferenciados em muitas faixas de elevação.
Alguns autores classificam várias delas denominando-as como: 
Abismo: Região de grandes sofrimentos, devido à recalcitrância no violar as Leis Divinas.
No livro “Memórias de um Suicida”[5], recebido mediunicamente por Ivonne do Amaral Pereira, o Espírito comunicante dá uma idéia do que seja esta região, e dos padecimentos pelos quais passou, devido à escolha que fez, usando o livre arbítrio e optando pelo autoextermínio.
Trevas: Esta é uma região do plano espiritual que, como o próprio nome diz, é desprovida de qualquer luminosidade.
Os Espíritos vinculados a ela acham-se envolvidos por vibrações malignas, e normalmente fazem o mal por prazer. O ponto que o diferencia do abismo, muitas vezes não percebemos, mas como acreditamos que o grau de culpa está diretamente ligado ao grau de conhecimento e de insistência no erro, acreditamos que no abismo encontram-se Espíritos que têm mais informações, e por isso mais culpados.
Como citação bibliográfica, o livro “Libertação”[6], de André Luiz, mostra vários lances desta esfera.
Crosta Terrestre: A Terra é um mundo ainda inferior habitado por Espíritos inferiores. Muitos desses Espíritos, quando desencarnados, ficam ligados ao planeta em busca da satisfação de seus vícios e apetites mais grosseiros, formando assim em volta do nosso orbe uma esfera espiritual caracterizada por vibrações altamente deletérias.
O livro “Nas fronteiras da Loucura”, ditado pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda, narra episódios passados durante o período de carnaval, nos dando uma clara idéia dos acontecimentos espirituais que envolvem nossa Terra, nesta ocasião.
Umbral: “É uma região espiritual que começa na crosta terrestre, na qual se concentra tudo o que não tenha finalidade para a vida superior. É região de esgotamento de resíduos mentais; uma espécie de zona purgatorial, onde se queima a prestações o material deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu por atacado, menosprezando o sublime ensejo de uma existência terrena.” [7]
No livro Nosso Lar, ditado mediunicamente por André Luiz, Lísias faz a seguinte afirmativa sobre o umbral:

É, portanto, uma região semi-trevosa habitada por Espíritos revoltados de toda espécie e envoltos por tendências e desejos inferiores.
Zonas de Transição: São colônias Espirituais muitas vezes situadas no próprio Umbral. Funcionam como verdadeiros oásis nos desertos. Espíritos ainda vinculados a problemas conscienciais, mas já dignos de merecimentos são atendidos nestas colônias buscando refazimento com vistas ao reajuste que se faz necessário.
Nosso Lar, é uma destas colônias, e é muito bem descrita na obra de André Luiz, não só no livro de mesmo título, mas em toda série que o segue.
Devido à importância desta colônia para o melhor entendimento do que seja a vida no plano espiritual, citaremos parte do estudo feito pelos Espíritos André Luiz e Lúcius, no livro Cidade no Além.
A cidade espiritual Nosso Lar, segundo informação de André Luiz, foi fundada por portugueses desencarnados no Brasil, no século XVI. Está localizada sobre o estado do Rio de Janeiro, entre as cidades do Rio de Janeiro, Campos e Itaperuna.
Na época em que nosso Amigo Espiritual nos brindou com esta magnífica obra, a cidade contava com cerca de um milhão de habitantes.
Sua administração é feita pela Governadoria, órgão central, e está assessorada por seis ministérios, a saber: Ministério da Regeneração, do Auxílio, da Comunicação, do Esclarecimento, da Elevação e da União Divina, que atuam nas áreas definidas pelo próprio nome, sendo cada Ministério dirigido por doze ministros.
Os trabalhadores de “Nosso Lar” moram sempre perto de seu trabalho, de tal forma que quando um trabalhador é transferido de ministério, é também transferido de residência.
Como se trata de uma colônia espiritual, a justiça se manifesta em maior intensidade. Veja a questão da moeda. O bônus-hora é como se fosse a moeda de “Nosso Lar”. Para cada hora trabalhada, o trabalhador recebe um bônus, e é com o acúmulo de bônus que os bens são adquiridos.
Poderíamos aqui enumerar muitas outras características desta colônia, mas o mais importante é sabermos que, do outro lado da vida, não existe a ociosidade para aqueles que querem evoluir; que há uma hierarquia espiritual que pela afinidade somos atraídos, e que, acima de tudo, a vida continua.
Esferas Superiores: São regiões espirituais caracterizadas pela felicidade e pelo trabalho em favor do próximo. Como conseqüência, estas regiões são habitadas por Espíritos de grande elevação moral, ou seja, os bons Espíritos e os Espíritos Superiores.
André Luiz em suas obras, muitas vezes fala de Espíritos destas regiões, que foram visitar “Nosso Lar”, mas para que tal fato ocorresse, tiveram que adensar o perispírito.
Esferas Resplandecentes:Regiões espirituais onde imperam a bondade, a confiança e a felicidade verdadeira”. No livro Renúncia, ditado pelo Espírito Emmanuel ao médium Francisco Cândido Xavier, assim é descrita a paragem espiritual a que estava vinculado o Espírito Alcíone:

“Pouco depois, ei-la que aporta em portentosa esfera, inconfundível em magnificência e grandeza. O espetáculo maravilhoso de suas perspectivas excedia a tudo que pudesse caracterizar a beleza, no sentido humano. A sagrada visão do conjunto permanecia muito além da famosa cidade dos santos, idealizada pelos pensadores do Cristianismo. Três Sóis rutilantes despejavam no solo arminhoso oceanos de luz mirífica, em cambiâncias inéditas, como lampadários celestes acesos para edênico festim de gênios imortais. Primorosas construções, engalanadas de flores indescritíveis, tomavam a forma de castelos talhados em filigrana dourada, com irradiações de efeitos policromos. Seres alados iam e vinham, obedecendo a objetivos santificados, num trabalho de natureza superior, inacessível à compreensão dos terrícolas.”[9]
Referências Evangélicas - Existem muitas referências evangélicas que tratam do tema que ora estudamos: “O Mundo Espiritual.”
Além da já citada neste estudo, em que Jesus nos afirma que “há muitas moradas na Casa do Pai”[10] gostaríamos de citar a Carta de Paulo aos Efésios.
Nesta carta o apóstolo dos gentios usa a palavra grega “epouraniospor cinco vezes. Alguns tradutores a traduzem como “céus”.
Céus em grego é “ouranos. Em Efésios temos epouranos = epo + ouranos donde epi= sobre + ouranos = céus, significando nos lugares celestiais[11]
Em cada vez que Paulo usa esta expressão ela tem um significado podendo ser compreendida como morada de Deus e do Cristo, morada dos Espíritos redimidos, dos seres angelicais de todas as ordens, etc.
Era uma crença do judaísmo a existência de vários céus. “A palavra ‘Céus em hebraico é plural, Shamaim. Assim, é que Paulo fala em II Coríntios, 12: 2 e 3 que foi arrebatado ao terceiro Céu.[12]
Até aí nada de novo, pois em todas estas situações a teologia cristã vê epouranios como sinônimo de céus. Todavia, em Efésios, 6: 12 Paulo fala em “seres espirituais malignos” que habitam as regiões celestiais (epouranios). Ou seja, se são “seres malignos” não podiam habitar os céus.
Portanto, podemos concluir que “epouraniossignifica o que hoje no vocabulário espírita entendemos como “mundo espiritual”, “plano espiritual”; e como é sabido por todo aquele que estuda a Doutrina dos Espíritos, conforme mostramos neste estudo, vários são os níveis deste “plano espiritual”.
Como vemos, Paulo de Tarso e os judeus do tempo de Jesus já sabiam da existência do mundo dos Espíritos e a Bíblia comprova em vários pontos esta realidade.

Conclusão
“O ensino dos Espíritos sobre a vida de além-túmulo faz-nos saber que no espaço não há lugar algum destinado à contemplação estéril, à beatitude ociosa. Todas as regiões do espaço estão povoadas por Espíritos laboriosos. Por toda parte, bandos, enxames de almas sobem, descem, agitam-se no meio da luz ou na região das trevas.
Em certos pontos, vê-se grande número de ouvintes recebendo instruções de Espíritos adiantados; em outros, formam-se grupos para festejarem os recém-vindos. Aqui Espíritos combinam os fluidos, infundem-lhes mil formas, mil coloridos maravilhosos, preparam-nos para os delicados fins a que foram destinados pelos Espíritos superiores; ali ajuntamentos sombrios, perturbados, reúnem-se ao redor dos globos e os acompanham em suas revoluções, influindo, assim, inconscientemente, sobre os elementos atmosféricos.
Espíritos luminosos mais velozes que o relâmpago, rompem essas massas para levarem socorro e consolação aos desgraçados que os imploram. Cada um tem o seu papel e concorre para a grande obra, na medida de seu mérito e de seu adiantamento. O Universo inteiro evolue. Como os mundos, os Espíritos prosseguem seu curso eterno, arrastados para um estado superior, entregues a ocupações diversas. Progressos a realizar, ciência a adquirir, dor a sufocar, remorsos a aclamar, amor, expiação, devotamento, sacrifício, todas essas coisas os estimulam, os aguilhoam, os precipitam na obra; e, nessa imensidade sem limites, reinam incessantemente o movimento e a vida. A imobilidade e a inação é o retrocesso. É a morte. Sob o impulso da Grande Lei, seres e mundos, almas e sóis, tudo gravita e move-se na órbita gigantesca traçada pela vontade divina.” [13]
Diferentes Categorias de Mundos Habitados

Quando questionamos a possibilidade de vida em outros planetas, somos obrigados a raciocinar com a lógica e o bom senso.
Analisando os atos de um homem de bem, vemos que ele não toma nenhuma atitude ao acaso, mas tudo o que faz é elaborado de acordo com os seus princípios. Se assim age um simples homem de bem, como então agiria o Criador em relação à sua própria obra? Seria fruto do acaso, ou haveria em tudo, planejamento?
O bom senso nos mostra que o acaso não existe, e que a criação foi e é obra de um rigoroso planejamento.
Se analisarmos o Universo só sob o ponto de vista de existência da nossa galáxia, a Via Láctea, chegaremos à conclusão que só em números de Sóis podemos contar aproximadamente 40 bilhões. E os planetas relativos a esses sóis, quantos serão ao todo? E isto estamos falando só da nossa galáxia, e se aventarmos às “bilhões” de galáxias? Por que então, o Criador que nada fez ou faz ao acaso, iria Criar tantos ambientes planetários?
Desta forma, chegamos à conclusão que seria menosprezar demais a capacidade de Deus, se supuséssemos somente a nossa minúscula Terra habitada.
É raciocinando desta maneira, que a Doutrina Espírita pode afirmar serem todos os globos que se movem no espaço, habitados. [14]

“É a mesma a constituição física dos diferentes globos?” Kardec fez esta pergunta aos Espíritos, ao que eles nos responderam:
“Não; de modo algum se assemelham.” [15]
E, é fácil de entender o porquê. Se somos Espíritos, cada qual no seu estágio evolutivo, não temos todos as mesmas necessidades. Se não as temos iguais, logicamente vivemos em ambientes diferentes. Assim sendo, os mundos são diferentes, porque diferentes são os que os habitam
Devido à infinidade de mundos, não podemos classificá-los quanto à sua evolução de uma maneira absoluta, mas Kardec oferece uma divisão, que nos permite entender melhor o assunto:
Mundos Primitivos - São os mundos destinados aos Espíritos em sua infância, ou seja, no início de sua evolução.

“Os seres que os habitam são, de alguma sorte, rudimentares: eles têm a forma humana, mas sem nenhuma beleza; seus instintos não são temperados por nenhum sentimento de delicadeza ou de benevolência, nem pelas noções do justo e do injusto(…)” [16]
A justiça, conforme a conhecemos hoje, não faz parte do entendimento deles, o que impera é a lei do mais forte.
Além da falta de desenvolvimento moral, temos como nenhum o desenvolvimento científico e intelectual.
Mundos de Expiações e Provas - Nestes mundos a característica básica é ainda o predomínio do mal sobre o bem. A superioridade da inteligência de alguns homens mostra que este não é um mundo primitivo. Mas essa inteligência é muitas vezes usada como forma de dominação e de desvirtuamento.
As qualidades inatas são provas que estes Espíritos já viveram antes, realizando muitas vezes em outros mundos, seu progresso. Mas são ainda bastante imperfeitos, e por isso estão sujeitos a provas e expiações, como forma de atingir a meta desejada: a perfeição.
A Terra, como sabemos, é um destes planetas de provas e expiações. É conforme o dizer de Emmanuel, “uma abençoada escola, onde se regenera o Espírito culpado e onde ele se prepara, demandando glorioso porvir.”[17]
Mas a Misericórdia Divina não desampara seus filhos. Periodicamente reencarnam nesses mundos, missionários do bem, Espíritos encarregados de vivenciar a moral em toda sua plenitude como forma de fixar o bem na intimidade das criaturas.
Mundos Regenerados - Os mundos regenerados servem de transição entre os inferiores e os superiores. Nesses mundos os Espíritos reencarnantes, apesar de acentuados progressos, ainda acham-se sujeitos a provas, mas sem as angústias das expiações. Sendo o homem ainda materializado, essas provas vão trabalhando nele a desmaterialização que se faz necessária para entrada em mundos mais evoluídos.
Há nestes mundos, por parte de sua Humanidade, o desejo da prática do bem. Livre que está dos Espíritos ligados ao mal, o homem acha-se desanuviado, e o clima psíquico é bem tranqüilo.

“Contemplai, pois, à noite, à hora do repouso e da prece, a abóbada azulada e, das inúmeras esferas que brilham sobre as vossas cabeças, indagai de vós mesmos quais as que conduzem a Deus e pedi-lhe que um mundo regenerador vos abra seu seio, após a expiação na Terra.”
Santo Agostinho [18]

Mundos Superiores - Nesses mundos, as condições de vida moral e material são bens diversas às da Terra. O corpo não é material como o nosso. O “Modus Vivendi” dos Espíritos ali vinculados faz com que eles não estejam sujeitos nem às doenças, nem às deteriorações da matéria.
A infância nestes mundos é menor ou quase nula; a vida é proporcionalmente mais longa, a morte já não causa medo, e a linguagem é feita pela transmissão do pensamento. “O homem não procura elevar-se acima do homem, mas acima de si mesmo, aperfeiçoando-se.[19]
O melhor é saber que viver num destes mundos não é privilégio dos eleitos, mas destino de todos nós, assim que nos purificarmos pelo trabalho e serviço ao próximo. Vivenciando, deste modo, aquele mandamento de Jesus, quando disse:



“Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós.”[20]
Final dos Tempos – Visão Espírita

Há por parte de grande parcela da Humanidade, incluindo a classe dos espíritas, a preocupação com as previsões catastróficas baseadas nos textos bíblicos e em próprias comunicações espíritas, sob o fim do mundo.
O que diz a Doutrina Espírita sobre isto? A Humanidade corre o risco de desaparecer da Terra? O mundo em que vivemos desaparecerá? E o juízo final? E a volta de Jesus, como se dará?
Os Espíritos são claros: Antes dizíamos: aproximam-se os tempos, agora dizemos: Os tempos são chegados.
Kardec, no livro Obras Póstumas, transcreve algumas comunicações dos Espíritos, em que eles falam deste assunto, e eles são claros em dizer que tudo o que está nos Evangelhos terá de cumprir-se, e já está se cumprindo. O que temos de ter é discernimento para tirarmos o espírito da letra na interpretação dos textos sagrados.
Como já dissemos anteriormente, toda a Criação Divina segue um programa pré estabelecido, e as Leis de Deus consequentemente não serão subvertidas.
Não haverá fim do mundo material, pelo menos por agora, como muitos têm anunciado, o que acontecerá é o fim de uma era, de uma etapa do processo evolutivo. O que se prepara é o fim do mundo amoral, aquele em que os interesses mundanos vêm à frente dos interesses definitivos do Espírito.
Essa mudança não será brusca, e nem acontecerá no ano dois mil e doze, ela já está acontecendo e continuará ainda por muitos anos. O processo é gradual como toda transformação da Natureza, não haverá cataclismos nem revoluções capazes de exterminar a Criação Divina. Haverá uma transformação que conduzirá a Terra, de mundo de provas e expiações, a mundo de regeneração, mas estas não serão simplesmente transformações externas, mas sim no interior dos próprios homens. A luta no campo das idéias, nos conflitos do relacionamento interpessoal, criará uma nova ética baseada na Verdadeira Moral, e esta será a tônica do novo mundo. O que fará haver mais ou menos dor, é a própria conduta do homem diante das mudanças que se fazem necessárias, ou seja, será diretamente proporcional à sua aceitação ou à sua rebeldia.
Mas podemos perguntar, como se fará a substituição desta geração por outra mais virtuosa?
Para que haja felicidade na Terra, é preciso que os Espíritos que a habitam sejam afinados com o Bem, portanto, é preciso que aconteça uma limpeza em nosso orbe, ou seja, que os Espíritos recalcitrantes no mal sejam levados para outros mundos que acham-se mais atrasados em relação ao nosso, onde expiarão seus erros e aprenderão com o “suor do seu rosto”, a não mais transgredir às Leis Divinas.
Entretanto, esse transporte não será via discos voadores ou planeta chupão, como muitos apregoam, eles serão transportados por meios espirituais e de forma natural.
Só para ilustrar, lembremos de que isto já aconteceu com relação à Terra, no entanto, ela, no momento, estava em condição de receptora destes espíritos, conforme narra Emmanuel:


“Há muitos milênios um dos orbes da Capela, que guarda afinidades com o globo terrestre, atingira a culminância de um dos seus extraordinários ciclos evolutivos. (…)
(…) Alguns milhões de Espíritos rebeldes lá existiam, no caminho da evolução geral, dificultando a consolidação das penosas conquistas daqueles povos cheios de piedade e virtudes, mas uma ação de saneamento geral os alijaria daquela humanidade (…)
As grandes comunidades espirituais, diretoras do Cosmos, deliberaram, então, localizar aquelas entidades, que se tornaram pertinazes no crime, aqui na Terra longínqua, onde aprenderiam a realizar, na dor e nos trabalhos penosos do seu ambiente, as grandes conquistas do coração (…)” [21]
Desta forma, podemos afirmar que o tempo é de tranqüilidade e de construção de um novo Ser baseado nos ensinamentos evangélicos. O juízo final não é acontecimento de um dia, mas de todos os instantes em que se faz necessário o auto-conhecimento, e a elaboração por nós mesmos do caminho a seguir.
Não nos inquietemos, devemos sempre lembrar de que neste planeta há governo, e que este condutor não é ninguém mais nem menos que Jesus, o Cristo de Deus.





[1] João, 14: 2
[2] DENIS, Léon. Depois da Morte, 18a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1994, cap. XXXIII
[3] Mateus, 18: 18
[4]PERALVA, Martins. O Pensamento de Emmanuel. 5a ed., Brasília, FEB, 1994, cap. 5
[5] PEREIRA Yvonne do Amaral. Memórias de Um Suicida, Rio de Janeiro, FEB, 1955
[6] XAVIER, Francisco C./André Luiz. Libertação, Rio de Janeiro, FEB, 1949.
[7] O Reformador Agosto de 1996, artigo de Gil Restani de Andrade
[8]XAVIER, Francisco C./André Luiz. Nosso Lar. 41a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1994, cap. 12
[9] XAVIER Francisco C./ Emmanuel (Espírito). Renúncia, Rio de Janeiro, FEB, 1942,  pg. 25 e 26
[10] João, 14: 2
[11] Nota de Severino Celestino em E mail trocado com o autor do presente texto.
[12] Idem.
[13] (DENIS Léon, Depois da Morte, 18ª ed. 1994), cap. XXXIV
[14] (KARDEC 1980),questão 55
[15] (KARDEC 1980), questão 56
[16] KARDEC Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, 104ª ed., Rio de Janeiro, FEB, 1991, cap. 3
[17] (XAVIER/Emmanuel [Espírito] 1991), cap XVI
[18](KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo. 104ª ed. 1991), cap. 3
[19] (KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo. 104ª ed. 1991), cap. 3
[20] João, 13: 34
[21] (XAVIER/Emmanuel [Espírito] 1980)cap. III